Quando, em 2016, os leirienses Whales venceram o Festival Termómetro, estávamos então em território “Big Pulse Waves”, tema que poderia bem ser um lado-B ou uma canção escondida de “Antidotes”, disco que nos havia apresentado a uma banda chamada Foals. Porém, apesar da sombra dançante que nele pairava, ninguém diria que, no homónimo disco de estreia lançado em 2018, a banda cedesse o domínio dos riffs de guitarra aos sintetizadores e a uma impressionante maquinaria, transformando então o indie rock em música de dança com veia contemplativa, numa viagem entre a melancolia e a vertigem que foi, tão só, um dos melhores discos do ano com produção nacional.
Ghost abre com sons de baleia a espreguiçar-se, teclados a serem premidos em loop que prenunciam mares revoltos e uma voz que, por trás de efeitos robóticos, trata de dar o mote à tripulação que, durante 37 minutos, irá juntar-se à tripulação de um barco chamado Whales, que só lançará âncora quando o Árctico se mostrar: “Turn your light low/ Buried hide, so/ Ease your mind slow/ Burn your shadow”. Um tema que abre e que ilustra bem todo o disco que se avizinha: um convite-duplo, onde se tanto se é convidado a dançar como se não houvesse amanhã como a parar o relógio para contemplar o mundo no seu estado mais intocável.
Twerp segue no mesmo comprimento de onda, mas já num jogo de efeitos sonoros e jogos de cintura electrónicos que, assim que entram em cena os tambores, trocam na boa a segurança a bordo por um passeio na prancha ao estilo de um “Ruptura Explosiva”.
Christian Young Man retoma a euforia que tinha ficado em suspenso no tema anterior, e por esta altura já estamos decididamente em modo disco, preparados para subir ao carrossel que é servido a meio com jingles sacados às televendas. Tudo para terminar com guitarras que tanto nos trazem à memória as tranças psicóticas de uns Sun Project como os delírios pioneiros dos Daft Punk.
Beyoncé, I Love You volta a fazer do mar um espelho, devolvendo a calmaria a uma embarcação que praticamente já tinha dado cabo de três barris de rum com tanta euforia. Tomam-se uns ben-u-rons, bebem-se uns copos de água e regressa-se à pista às primeiras notas de “How Long”, onde predomina um drum kick na linha da frente a marcar o compasso – mas só até os teclados se imporem e fazerem uma festa que poderia bem ser de espuma.
Did You Know That a Blue Whale`s Tongue Can Weight as Much as an Elephant? era pergunta para figurar num modernos livro dos porquês, mas aqui serve de prenúncio a uma malha com tantas tranças que levaria o povo ao delírio numa tarde amena para os lados de Idanha-a-Nova.
Low começa por pairar no território do drum n bass, para logo viajar através de paisagens mais contemplativas, desta vez com a voz na linha da frente, naquele que será falsamente o tema falsamente mais pop desta rodela, com uma atmosfera a recordar-nos alguns dos mais bem conseguidos momentos dos Foals.
A fechar temos um díptico constituído por Narwhal I e Narwhal II, onde calçamos as barbatanas e tentamos acompanhar este narval de porte médio e caninos de meter medo rumo ao Árctico, preparado para ser o palco de um fim de festa onde não faltam sons sacados a um saudoso spectrum ou um solo de bateria tresloucado. Quase três anos depois, já vai sendo tempo de estes meninos nos brindarem com uma nova rodela.
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