Terça-feira, 30 de Outubro. A Aula Magna, bem composta, fervilhava de antecipação, com centenas de corpos a ajustarem-se aos espaços disponíveis como um gigantesco jogo de tetris. Em palco, para além da habitual parafernália de instrumentos, cinco expositores altos com pequenas plantas dispostas em prateleiras.
Eram nove em ponto quando se ouviram as primeiras batidas do set de Iguana Garcia, alter-ego do português João Garcia. Sozinho em palco, o músico mostrou a sua curiosa mistura de batidas graves, teclados anfíbios e guitarras aguçadas. Ouviu-se “Leida Selva”, o mais recente single, e canções de “Cabaret Aleatório”, disco de 2017. É uma sonoridade virada para a pista de dança, pintada com algumas cores garridas de psicadelismo por cima de ritmos disco – dir-se-ia um encontro fortuito entre os Leftfield e os Tame Impala. Uma surpresa agradável, que a espaços entusiasmou (como na música que fechou o alinhamento, “60KF”, uma eficiente máquina de dança, a puxar a Nine Inch Nails).
Os Unknown Mortal Orchestra entraram em palco perto das dez horas, com um suave instrumental, muito jazzy, a abrir caminho para “From the Sun”, do álbum de 2013 “II”. A banda é praticamente um negócio familiar: Ruban Nielsen na guitarra e voz; o irmão Kody Nielsen na bateria; o pai, Chris Nielsen, nas teclas e saxofone; e o amigo de longa data Jakob Portrait no baixo. Logo no primeiro tema, Ruban fez uma incursão pela plateia com um roadie atrás, a apontar-lhe uma lâmpada verde, como um sabre de luz. O músico ia passeando e debitando solos fantásticos, e o público ficou rendido logo ali.
Seguiu-se um alinhamento de grandes canções, que ao vivo ganharam dimensões épicas. Com os infecciosos “Swim and Sleep (Like a Shark)” e “Necessary Evil” a banda tinha o público na palma da mão, e o riff pujante de “American Guilt” fez tremer as fundações do edifício. “So Good at Being In Trouble”, fabuloso rebuçado pop, ganhou um final free jazz, em que os músicos, ajudados por um hipnótico jogo de luzes, elevaram a tensão até aos limites do suportável.
Os Unknown Mortal Orchestra são todos músicos de excelência em topo de forma, mas o destaque tem de ir para os irmãos Nielsen – Kody com as suas originais e intensas batidas fracturadas e Ruban como um dínamo humano, irrequieto e cativante.
“We’re Not In Love, We’re Just High” viu o vocalista encostar a guitarra para entrar em modo Prince, cantando empoleirado numa cadeira no meio da plateia, com uma vibração funky contagiante. Por alturas do mega-êxito “Multi-Love”, já ninguém conseguia estar sentado – a Aula Magna em peso dançava com gosto. Foi assim até ao final – no encore tivemos ainda “Hunnybee” e, a fechar, “Can´t Keep Checking My Phone”, com a noite a terminar em apoteose total como um verdadeiro festim visual e sónico.
Ainda faltam dois meses para o final do ano, mas quer-nos parecer que o melhor concerto de 2018 já tem aqui um sério candidato.
Setlist
From The Sun
Swim and Sleep (Like a Shark)
Necessary Evil
Ministry of Alienation
So Good At Being In Trouble
Major League Chemicals
American Guilt
We’re Not In Love, We’re Just High
Multi-Love
Encore
Hunnybee
Can’t Keep Checking My Phone
Fotos: Nuno Conceição / Everything is New
Promotora: Everything is New
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