Exactamente três meses após os Caminhos do Ferro, os municípios do Médio Tejo voltam a criar momentos únicos de encontro entre a cultura, a tradição e as novas formas de arte. São os Caminhos da Água, segundo ciclo programático do programa cultural que percorre a região e procura chegar a todas as comunidades e gerações.
Presente-se a presença de pelo menos três tipos de público ou participantes: os que sempre lá estiveram, os que chegam e inopinadamente se confrontam com uma oferta cultural surpreendente e, também, os mais novos, nativos ou recém chegados, aqueles que se apropriam de novas formas de arte de respeito pela tradição e podem fazer a diferença em termos de adesão a este tipo de programação.
Aos residentes na região, que estão envolvidos na organização de percursos de descoberta da paisagem de todos os dias, juntam-se a artistas que, numa lógica de residência artística, recolhem lembranças e tradições das gentes locais, dando-lhes formas de roteiro e projecção artística. Neste primeiro fim-de-semana (13 a 15 de Julho), a passagem foi por Vila de Rei e Ferreira do Zêzere.
Na magnífica aldeia de Avecasta, Ana Bento deu corpo ao percurso Aqui no lugar, experiência que envolveu caminhada, exploração de moinhos, grutas e gastronomia local, ao som de música, cantares, dizeres e trajes com memórias vivas.
Os espectáculos de música tiveram lugar à noite, em espaço aberto, ambientes aprazíveis e intimistas que nem a rebeldia de S. Pedro logrou perturbar. Isaura e Samuel Úria estiveram em Constância, entusiasmaram e deixaram-se contagiar pela generosidade de um público de várias gerações.
No entretanto, em tardes soalheiras e convidativas à descoberta de praias fluviais, cruzamo-nos com figuras do bestiário tradicional português, criaturas enclausuradas em livros e oralidades que voltam a ganhar vida, vagueando à volta de Constância e Mação, em contextos familiares e profundamente lúdicos, actividade vocacionada para a interação entre gerações.
A ludicidade persiste na Casa das Brincadeiras, na Sertã e em Torres Novas, permitindo que os mais novos deem espaço à sua capacidade de projetar o futuro com criatividade, alegria e equilíbrio.
Em Torres Novas cruzámo-nos com um submarino terrestre, que percorre os oito municípios fazendo emergir alegria e espanto entre novos e graúdos, ambos autorizados a embarcar e participar em momentos de teatro itinerante. Trata-se mais uma vez do Projeto EZ, que já nos habituou a outros momentos de criatividade e interacção sem limites.
Ainda em Torres Novas, com os músicos do Porto Gustavo Costa e Henrique Fernandes, há a descoberta de um novo universo musical através da amplificação de fenómenos sonoros microscópios vindos do fundo de aquários, uma pequena sinfonia de blops, glups, plonks e plops. Trata-se da microscopiofonia sonoscopia.
No cômputo, para além do registo artístico, é impossível passar por uma experiência desta natureza sem destacar o registo acolhedor das gentes e das estruturas locais organizativas que, de forma discreta, promovem um bem receber e fazer que se confirma após os Caminhos do Ferro, e que motivam ao regresso já no próximo fim-de-semana – e, por altura do outono, nos Caminhos da Pedra.
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No próximo fim-de-semana, que se estenderá de 19 a 22 de Julho, a programação circula, diverge e promete novidades, desta feita pela Sertã, Abrantes, Alcanena, Vila de Rei e Mação. Consulte aqui todo o programa.
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