Há um ano atrás, surgiu um drama de proporções consideráveis para quem tinha de discorrer sobre “Emotional Mugger”. Na verdade, havia muito a dizer a respeito da sonoridade que este emitia, com um fuzz que parecia ecoar continuamente, mas o som era tão díspar e apontava em tantas direcções que o acumular de ideias sobre as canções dificilmente encontrava uma dimensão escrita. Seria possível que abordar a edição de um disco de alguém que, nos últimos 10 anos, lança um disco a cada 365 dias, fosse uma matéria tão difícil?
Desta vez -pelo menos aparentemente -, o risco de nos perdermos será menor. “Ty Segall” (Drag City, 2017) apresenta um fio condutor e o registo discográfico segue uma sequência, excepção feita à terceira faixa, “Warm Hands”, um exercício de devaneio que bate os dez minutos. O punk dá lugar ao ambiente psicadélico, fazendo crer que Ty Segall, o criador, se predispõe a juntar as várias vertentes do rock underground. Não sendo descabida a possibilidade de o nomear como um dos mais versáteis membros do rock alternativo, Segall surge, desta vez, com um registo onde dispensa o auxílio exagerado de sintetizadores. A multidisciplinaridade da discografia anterior pode, porém, criar pontes com as novas canções, fazendo apelos sucessivos à memória de curto prazo.
“Break a Guitar” justifica-se como um prólogo que mostra, desde logo, ao que Segall vem, enquanto “The only one” se veste com uma distorção trazida de discos anteriores. Novidades? A vertente acústica mais declarada de “Talking”, igualmente presente em “Orange Colour Queen” – sendo que os mais atentos irão recordar, a partir deste conjunto de cordas, “Sleeper”, o disco lançado em 2013.
“Ty Segall” é como o fragmento de um filme dado ao flashback, remetendo o espectador para um passado distante que explica uma parte significativa do presente – que, neste caso, representa um regresso às origens, e aqueles que se sentiram defraudados com os discos mais recentes irão agora dar a mão à palmatória.
Será ousado e um atrevimento extrapolar o conteúdo e a direcção tomada por Ty Segall no próximo disco (podemos apenas atrever-nos a prever que sairá em 2018), mas pode afirmar-se, com segurança, que este é provavelmente o seu registo mais conseguido.
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