Chegados a 2017, os The War on Drugs ultrapassam as provas de aferição referentes ao disco de estreia e o da confirmação do hype. Em “A Deeper Understanding” (Atlantic Records, 2017), o quarto registo, deparamo-nos com a consagração inequívoca.
O despudor com que a banda se apresenta, de forma mais lustrada, cintilante e genuína que nos registos anteriores, é a prova da confiança com que voltam a dar a cara. “A Deeper Understanding” será certamente um dos discos do ano, composto por faixas tão geniais quanto “Up All Night” ou “In Chains”.
Se fecharmos os olhos conseguimos discernir a crença com que a banda trabalhou este disco. As dez canções parecem separadas, possuindo intervalos electrónicos, com sintetizadores em abundância, pianos, uma percussão tocada por sete pessoas diferentes durante as gravações e linhas de baixo integralmente distribuídas, sendo de realçar a ligação que existe entre os vários instrumentos. O coração do disco, esse, está na percussão, que marcando o ritmo e pautando o andamento do tempo infere um tom progressista a todas as faixas.
Paradoxalmente nota-se uma incoerência melódica: o espalhafato de “Holding On” é precedido da suavidade de “Strangest Thing” que, posteriormente, é derrubada pela passada agressiva de “Nothing to Find”, o que nos leva a deduzir que rumo a tomar é completamente aleatório. No entanto, a convicção com que Adam Granduciel expõe estas novas canções, fará com que os ouvintes mais fiéis – aqueles que não perdem o rasto à banda desde a edição de “Slave Ambient” nos idos de 2011 – abracem mais este objecto de culto.
Verifica-se também a existência de baladas, não no senso estrito do termo, mas canções que levam à descompressão ou interrompem a avalanche sonora do primeiro terço do disco. No entanto, quando prevemos instantes de música ambiente que se transformará em loop, surge, sabe-se lá de onde, um solo de guitarra, como em “Thinking of a Place”. Em “A Deeper Understanding”, o som flui de forma autêntica entre a massa espessa criada pela mistura de sintetizadores recheados por camadas de teclados que a cobrem.
Chegados a 2017 e alimentados por tantas novidades e criações inovadoras, e perante a quantidade considerável de sons e estilos novos que foram chegando, os The War on Drugs podem sentir-se satisfeitos por continuarem a destacar-se pela originalidade.
Apesar de genuína e diferente, nota-se que este tipo de música foi produzido num passado não muito distante – os mais atentos vão notar influencias de krautrock. A produção musical do passado repete-se no presente, servindo de base para a que se ouvirá no futuro. Os The War on Drugs são uma vertente feliz dessa fatalidade.
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