A história desta banda londrina dava um filme: Max Oscarnold chegou a Londres em 2008, fugido de Buenos Aires, onde a família o queria internar compulsivamente numa instituição para doentes mentais. A sua namorada de então, cleptomaníaca empedernida, levou-o a uma loja de roupa vintage com o plano de surripiar umas botas, enquanto Max distraía o empregado.
Acontece que o empregado era James Hoare, vocalista dos Veronica Falls, e Max e James forjaram de imediato uma ligação com base numa admiração mútua pelos Velvet Underground. As botas acabaram por não ser roubadas (não tinham o número certo), mas do encontro fortuito entre os dois músicos nasceu uma banda: os The Proper Ornaments.
Fast forward para o ano aziago de 2020: saiu em finais de Fevereiro o quinto álbum de estúdio, “Mission Bells” (2020, Tapete Records), fruto da tournée de apresentação do trabalho anterior, “Six Lenins”. A banda acolheu um novo elemento (a baixista Nathalie Bruno), e aproveitou os soundchecks dos concertos para compor os novos temas.
“Mission Bells” pretende ser uma exploração – quase sempre melancólica – destes tempos dementes em que vivemos. O quarteto londrino regula o metrónomo para velocidade média, adequada para aquele balanço de cabeça da cartilha do psicadelismo, e raramente pisa no acelerador.
A voz narcótica de James Hoare assenta como uma luva no som tranquilo da banda. Umas vezes soam a Jesus & Mary Chain (Tin Soldiers), outras convocam o espectro de John Lennon (Cold), outras ainda lembram os Toy (Broken Insect), onde Max Oscarnold também toca.
A bateria surge muitas vezes assertiva, como no início de “Downtown”, uma das músicas mais orelhudas do disco, e no compasso sonâmbulo da balada “The Impeccable Lawns”. Há ainda espaço para a folk mais pastoral de “The Wolves At The Door”, e para a sentida invocação dos Velvet Underground em “The Park”.
“Mission Bells” parece, de início, um bloco difícil de digerir, com as texturas musicais algo semelhantes entre si. Mas é um disco que ganha com repetidas audições. Ainda que não vá mudar a vida a ninguém, revela-se um interessante bálsamo psicadélico, ideal para excomungar os receios pandémicos dos tempos modernos. É pôr a máscara e os fones, abanar (levemente) a cabeça e esperar pela vacina.
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