Última actualização no boletim meteorológico do neo-psicadelismo: enquanto os Tame Impala anunciam dias de sintetizadores limpos e cintilantes, sob a forma de “The Slow Rush”, os britânicos Temples carregam nas tempestades de guitarra eléctrica no mais recente “Hot Motion” (ATO Records, 2019).
Neste terceiro registo, a banda continua a praticar uma sonoridade vintage, teletransportada dos anos 60, com traços de glam-rock e percussões trovejantes. Os Temples preferem, ainda assim, fugir a monstros do passado como os Byrds, os Beatles ou os T-Rex, dizendo-se mais próximos do revisionismo moderno dos MGMT ou dos Foxygen.
Mudaram de baterista e de editora, mas o som mantém-se cravado no terreno habitual: a banda acampou na zona de conforto dos dois primeiros registos, sem grandes reviravoltas.
Entramos com o pé direito no tema-título. Um fraseado de guitarra, seguido de um galope de percussão propulsiva regado a Red Bull. É uma composição dinâmica, dotada de um refrão explosivo e muito eficaz. Logo depois temos “You’re Either On Something”, uma melódica fatia de nostalgia onde pontuam algumas das forças da banda: a voz e a percussão bem à frente na mistura, uns bons riffs sacados às guitarras e uma dinâmica interessante. Fala-se de uma noite de copos, com danças e rock and roll pela noite fora.
“Para mim, tudo começa e acaba na melodia”, diz o vocalista e frontman da banda, James Bagshaw. “Os meus pais estavam sempre a ouvir discos da Motown, que têm melodias fantásticas, e os Beatles também, todas essas coisas que são tão melódicas”.
Esse gosto pela melodia está no centro da identidade da banda, como vemos em temas como “Not Quite The Same”, com uma linha de baixo açucarada, ou na marchante “The Howl”, espécie de fragoroso grito de armas ecoando pelos campos ingleses.
“It’s All Coming Out” mostra uma faceta mais pop, mas torna-se banal ao fim do primeiro minuto, e o mesmo acontece com “Step Down”, que arranca com um riff potente para, ao fim de algum tempo, começar a soar a um qualquer lado B esquecido dos The Black Keys. Também “The Context” é muito melódica, mas esquecível – agradável e pouco mais.
No geral, “Hot Motion” está alguns furos abaixo dos dois discos anteriores, “Sun Structures” de 2014, e “Volcano” de 2017. Os Temples optaram por não arriscar, decidindo jogar na continuidade. Embora a consistência nem sempre seja uma coisa má, nitidamente falta a este disco um golpe de asa, um passo mais arriscado que traga novidade. Como versa uma das suas músicas mais célebres, “Be Strange or Be Forgotten”.
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Os Temples trazem este disco a Lisboa no próximo dia 16 de Março, na Sala Lisboa ao Vivo, e os bilhetes já estão à venda nos locais habituais.
Promotora: Amazing Events
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