Quando muito boa banda se andava a colar às sonoridades que nos chegavam do continente com mais cangurus por metro quadrado, eis que os Tame Impala desistem do psicadelismo desregrado e, sem medo, partem à descoberta de uma nova sonoridade.
Depois de dois longas-duração que lhes conferiram o estatuto de banda de culto, os australianos Tame Impala editam, neste 2015, o seu disco menos alienígena. Ainda que mantenha muito do experimentalismo dos anteriores trabalhos, “Currents” (Interscope Records, 2015) é um disco com um acentuado travo pop, com letras onde a ternura, o amor e o desamor se fazem ouvir por detrás de uma bem construída muralha sonora.
Até à edição deste novo disco, Kevin Parker parecia viver obcecado em tornar-se um rocker à moda antiga, com toda a música a gravitar em torno das guitarras. Em “Currents”, a conversa – e a música, claro está – é outra. Mesmo que a música dos Tame Impala parta para visitar paisagens com ainda mais tonalidades, a guitarra é agora uma espécie de âncora, à volta da qual reina a bateria, o baixo e, sobretudo, os sintetizadores, que parecem resgatados a um armazém abandonado nos anos oitenta. A voz chega-se à frente, fura a barreira e canta, destemida, sobre arrependimento e corações partidos.
Mas terão os Tama Impala abdicado do psicadelismo, pergunta o leitor que ainda não deitou ouvido a “Currents”. Muito pelo contrário. A questão, porém, é que o psicadelismo deixa agora de ser uma questão de género, para se tornar, tão simplesmente, uma vitamina injectada a cada uma das audições. “Yes I`m changing”, canta Kevin Parker a certa altura. Quando a nós, resta-nos responder com apreço e incentivo a um dos mais inventivos músicos do nosso tempo: let it happen.
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