No regresso ao Meco após cinco edições a Oriente, naquela que é já a 25ª edição do Super Bock Super Rock, a Música no Coração conseguiu um feito de monta: proporcionar aos festivaleiros, trambolhos e não trambolhos, a pior experiência de que há memória, transformando aquele fatídico dia em que Prince desceu ao Meco numa história mal contada do homem do saco.
Não me interpretem mal. Adoro festivais passados a snifar pó que não bate debaixo das estrelas, e não me importo de gastar uma pilha de caixas de soro a limpar olhos e nariz, de aplicar com esmero o líquido de limpeza na cara antes de me deitar e de fazer umas máquinas extra de roupa, depois de me certificar com a minha mulher de que estou a carregar nos botões certos. Isso faz tudo parte do jogo, de quem não se importa de ir a um festival longe dos núcleos urbanos que, muitas vezes, transformam concertos de música em eventos de moda com música lá dentro.
Tendo as duas últimas edições do SBSR no Meco corrido relativamente bem, apetece perguntar: onde estão os tipos que tinham planeado aquilo tão bem ou, pelo menos, o que raio fizeram aos apontamentos que estes haviam deixado como manual de instruções para evitar o fim do mundo?
Houve quem demorasse seis horas a chegar de Lisboa ao Meco. Eu demorei duas horas desde Setúbal, após ter sido desviado da estrada que sempre deu acesso e de me ter perdido numa povoação qualquer, salvo por dois tipos que estavam a curtir um house refinado e que acabaram por me conduzir à rotunda certa. A sinalética é inexistente, tanto nas estradas principais como nas várias artérias que podem conduzir ao recinto, e a certa altura pensei estar dentro de um peddy paper desenhado pelo tipo que inventou o “Onde está o festival”, em homenagem ao tipo do barrete vermelho que usa óculos. Mesmo dentro do recinto a sinalética parece de brincar. Não percebi se havia uma zona para pessoas de mobilidade reduzida – fica o conselho, se a tiverem não se metam aqui -, e as casas de banho são também encontradas quase por acaso – ou seguindo o cheiro. A mudança de cenário do festival foi péssima, perdendo-se os recantos e a identidade que tinha cada palco, numa terraplanagem que transformou o Meco numa geografia semelhante à do Sudoeste.
E o que dizer de gente que esteve cinco horas à espera de um autocarro para regressar a casa, ou umas outras tantas para conseguir sair do estacionamento? Tive a sorte danada de estar estacionado perto da saída, o que implicou apenas uma meia hora para conseguir chegar à estrada principal – mas só depois de muito jogo de cintura num caminho feito para dois carros onde, por milagre, couberam quatro. Pelo caminho ainda dei com uma ambulância a vir em marcha de urgência, que lá passou depois de muitos carros terem ido quase à berma. Uma amiga desistiu e dormiu umas horas no carro, porque hoje foi dia de trabalho para muitos. O parque de estacionamento, para lá da arrumação caótica, não tem qualquer iluminação, e não é difícil de imaginar o que teria acontecido numa situação de emergência mesmo a sério.. Carros atascados, outros trancados, a lista de disparates poderia encher um carrinho de supermercado.
Do estiloso Marlon Williams, da sedutora Lana Del Rey, dos já crescidos Metronomy, dos cinemáticos e interventivos The 1975 ou dos animados Jungle falaremos depois.
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