Se há banda que está para a História do hip-hop como um dos seus escribas originais ela será, certamente, os De La Soul. Quando, em 1989, o grupo americano lançou “3 Feet High and Rising”, muitos disseram que essa rodela continha o futuro do hip-hop, com as suas colagens de tons psicadélicos, as rimas inteligentes e bem-humoradas e, sobretudo, o modo low-fi com que o trio encarava a coisa, quase como se aquilo não fosse nada com eles. Era um disco que soava como até então o hip-hop nunca tinha soado, carregado de sons e rimas inesperadas e que, mais de 25 anos depois, continua a soar como uma pequena maravilha.
Apesar da excelência, a banda formada por Posdnuos (Kelvin Mercer), Trugoy the Dove (David Jude Jolicoeur) e Pasesmaster Mase (Vincent Lamont Mason Jr.), que ao funk e à soul juntava o perfume da pop, o frenesim do jazz ou o embalo do raggae, nunca gozou do mesmo sucesso que, por exemplo, os seus contemporâneos Public Enemy, mais virados para o rap de combate – onde estavam também, por exemplo, os sempre armados NWA. Enquanto estes últimos falavam de guerra, racismo e combate, os De La Soul cantavam sobre paz e amor, o que fez deles o porta-estandarte de uma nova e luminosa vaga onde surfaram também os A Tribe Called Quest, ou os Junlge Brothers.
Tudo parecia correr bem para os De La Soul, até levarem com um processo judicial de uma banda chamada Turtles, que os acusava de terem samplado o seu tema “You Showed Me”, no terceiro tema do seu disco. A verdade é que as tartarugas venceram o processo, o que acabou por mudar não só a vida dos De La Soul como, também, do próprio rap, fazendo-o regressar à instrumentação. Uma mudança que fez com que “De La Soul Is Dead”, o segundo e muito irónico disco da banda, acabasse por sair bem mais tarde do que o planeado. Porém, o seu tom mais sombrio não atraiu tanta audiência como havia acontecido com o seu antecessor, apesar de conter clássicos intemporais como o é “Ring Ring Ring (Ha Ha Hey).
O terceiro longa duração – “Buhloone Mindstate” – acabou por surgir no final de 1993, com um acentuado travo funk mas, apesar de ter contado com o elogio da crítica, não vingou nas tabelas de êxitos, o mesmo acontecendo com “Stakes is High”, o quarto disco da banda editado em 1996. Quatro anos depois aparecia “Art Official Intelligence: Mosaic Thump”, supostamente o primeiro tomo de uma trilogia musical, que terminaria precocemente com o lançamento de “AOI: Bionic” e a saída do produtor Prince Paul. A banda acabou por lançar “The Grind Date” em 2004 e, depois de alguns anos de travessia no deserto – onde, ainda assim, tiveram momentos altos como a colaboração com os Gorillaz e bandas como os Super Furry Animals ou os Yo La Tengo -, lançaram em 2012 “Plug 1 & Plug 2 Present… First Serve”, praticamente sem contarem com qualquer promoção.
Para Agosto deste ano está previsto o lançamento de “And the Anonymous Nobody”, que contou com a ajuda de um fundo criado via Kickstarter que, em menos de 10 horas, havia conseguido amealhar 110 mil dólares. Dia 16 de Julho, no alfacinha Parque das Nações, espera-se uma verdadeira celebração do hip-hop. Do seu passado e, se possível, também do seu futuro.
Super Bock Super Rock 2016
14 a 16 Julho
Parque das Nações, Lisboa
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