“O amanhã não existe, é criado com as coisas que fazemos hoje. Se quiserem dançar à chuva façam-no esta noite (tentem só não ficar doentes). Tomem conta de vocês e dos outros, mas façam-no já hoje“. Estas palavras pertencem a Sarah McCoy, a artista americana que, no passado domingo, assinou no Pequeno Auditório do CCB um concerto memorável, onde ao humor negro e a algumas lições de vida nos mostrou com que material são feitas as suas canções, pintadas de negro com um rolo compressor.
Ajudada por um jogo de luzes que transformou cada música num premiado videoclip, que foi dos primórdios do cinema mudo a uma alucinada fantasia de David Lynch, pudemos avistar muitas das sereias que mergulharam – e encantaram – no seu disco de estreia, em canções quase sempre acompanhadas de um texto explicativo, dito em modo sit down comediant, e com a bênção do Deus Baco.
Durante mais de uma uma hora, Sarah McCoy cantou sobre tentar-se ser melhor depois de uma relação falhada – Between The Lines -, disse ser mais provável ser atropelada por um autocarro – ou transformar-se num – antes de se apaixonar à séria – Red Hot -, confessou tornar-se bastante creepy quando gosta de alguém – “estou a trabalhar nisso com a minha terapeuta, está tudo bem“, brinca, antes de uma versão inspirada de Hot Shot -, leu-nos a carta que escreveu à mãe onde revela o monstro que a habita – Mama`s Song -, partilhou o seu medo da morte e de descobrir a coragem para não pensar tanto nela, falou do temor de envelhecer e das saudades daquela rapariga que via no espelho e que podia usar roupas com buracos sem dar a mínima – I Miss Her -, dedicou uma canção às pessoas que beijam e logo a seguir desaparecem, juntou todos os seus ex num saco e aplicou-lhes uma valente uma carga de porrada – Creep -, e ainda teve tempo para nos surpreender com uma canção feliz – “Eu sei, não é esse o meu trabalho“.
Antes de abandonar o palco, Sarah falou da amizade como a melhor coisa do mundo, e da importância de estarmos disponíveis para nos espantarmos com o desconhecido, “deixando a luz acesa para as pessoas que não conhecemos, de modo a não entrarmos no futuro às escuras” – quem sabe se a mesma que os The Smiths acenderam em 1986 e que permanece a brilhar desde então.
Fotos: Luísa Velez
Promotora: A Minha Agência
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