Em 2003 apareceu no radar dos amantes de música um tal de Samuel Úria. Orgulhoso dono de umas fartas patilhas, o cantor e compositor português tem-se revelado um fantástico escritor de canções.
Este ano tem novo disco na calha, de nome “Carga de Ombro”. Estão previstos, para já, dois concertos de apresentação do álbum: a 29 de Abril no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa e, a 5 de Maio, na Casa da Música do Porto.
A propósito da ocasião, o Deus Me Livro recorda 10 momentos marcantes da sua carreira:
1. O primeiro trabalho de Samuel Úria é de 2003, editado com o selo da Flor Caveira, editora que teve em Samuel um dos fundadores. Feito de forma caseira e sem quaisquer pretensões por um puto acabado de sair do punk, a brincadeira chamava-se “Caminho Ferroviário Estreito”, apresentando ao mundo a estética lo-fi e as letras corrosivas e auto-irónicas que viriam a solidificar-se nos trabalhos seguintes. “Coisas do coração” é a décima quarta faixa do disco.
2. “Em Bruto”, EP de cinco faixas em nome próprio, foi lançado em 2008. “Compilação de temas marginais e desalinhados” – segundo o autor -, “Em Bruto” não fazia segredo das suas influências: António Variações, Bob Dylan, Tom Waits e Beck são citados nas imprevisíveis letras das canções. O EP continha uma música gravada para a Antena 3, de nome “Teimoso”. Aqui vemos Samuel a interpretá-la ao vivo na SIC Radical, armado apenas com a sua guitarra.
3. Também de “Em Bruto” saiu esta verdadeira pérola, “Barbarella e barba rala”, uma balada terna e emocional, aqui tocada ao vivo na Antena 3 (em 2008).
4. “Nem lhe tocava”, o primeiro disco “a sério” de Samuel Úria, chegou às lojas em 2009, gravado em parceria com a Valentim de Carvalho. É um disco de música “mais directa, mais simples e fácil de ouvir. Música popular que, de repente, leva chicotadas mais alternativas“, nas palavras do próprio. Em conjunto com “Em Bruto”, o álbum despertou a atenção da imprensa e deu outra visibilidade ao músico de Tondela. Dele fazia parte o fabuloso “Não arrastes o meu caixão”.
5. Ainda em 2009, o músico faria uma experiência musical invulgar: escrever e gravar um disco num só dia, em sua casa, enquanto transmitia os trabalhos e recebia sugestões pela net. Dessa experiência extrema nasceu o curioso objecto “A Descondecoração de Samuel Úria”, lançado um ano após a gravação. Dele faz parte o tema “Má Poesia Feia”.
6. O disco seguinte, “O grande medo do pequeno mundo”, vê a luz do dia em 2013. Ao contrário de “Nem lhe Tocava”, para este trabalho Samuel rodeou-se de colaboradores de peso no meio musical português: Armando Teixeira, António Zambujo, Miguel Araújo e João Só são alguns dos nomes creditados no disco. Uma das parcerias mais bem conseguidas é o dueto com a cantora Márcia Santos, “Eu seguro”.
7. Também de “O grande medo do pequeno mundo” saiu “Lenço Enxuto”, dueto com Manel Cruz, antigo vocalista dos Ornato Violeta. A música viria a ganhar em 2014 o prémio de melhor canção do ano para a Sociedade Portuguesa de Autores. A versão que aqui se apresenta foi gravada ao vivo nos Estúdios Valentim de Carvalho (sem o Manel).
8. O álbum de Márcia, “Casulo”, foi igualmente editado em 2013, e desse trabalho faz parte a faixa “Menina”, escrita e interpretada em parceria com Úria – uma espécie de retribuição pelo tema “Eu seguro”. O videoclip é de Joana Faria e apresenta os dois músicos em registo vagamente western, batalhando contra a ventania.
9. Para além de ser um músico e um artista completo, Samuel Úria é um tipo bem-disposto e espirituoso, como se comprova nesta entrevista de Carolina Torres no Curto Circuito, onde Samuel mantém a compostura face a uma pergunta algo inesperada.
10. O primeiro single a sair de “Carga de Ombro” é este “Dou-me corda”, devaneio com tons de Gospel que viaja até aos campos de algodão do sul dos Estados Unidos – isto sem nunca sair de Lisboa. O tema é o cartão-de-visita daquilo que será, certamente, um grande álbum.
Foto: Rita Carmo
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