romaria
(ro·ma·ri·a)
nome feminino
1. Peregrinação religiosa a igreja, ermida ou lugar santo.
2. Festa de arraial.
3. [Figurado] Grupo grande de pessoas que visitam determinado local.
4. [Figurado] Grande aglomerado de pessoas.
“romaria”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2023
Para o asturiano Rodrigo Cuevas, o significado de romaria – ou Romería – é muito mais do que aquele que o dicionário nos oferece. Um estado perfeito, partilhado por amigos e família, onde se celebra a paisagem e a liberdade é praticada em todo o seu esplendor. “Se não a usarmos ficamos sem ela. É um exercício de responsabilidade. Pelos que vieram antes e a construíram para nós”. Após a coroação em Sines (Músicas do Mundo), a Rainha de Portugal regressou a Portugal para dois concertos no âmbito do Misty Fest, o primeiro no Cineteatro Capitólio, em Lisboa. E que concerto!
Acompanhado de um quarteto de músicos, posicionados no que poderiam ser postos de atendimento musical elevados, Cuevas arrancou o concerto no meio da pista, num desfile real onde exibiu um outfit com muita licra, transparências, franjas e umas socas gigantes – os mais atentos, terão visto umas confortáveis pantufas aos quadrados por baixo de tanto aparato.
“O que querem? Um pouco de strip tease? Que horror, estes lisboetas. Põe aí uma música de strip tease”, lançou, tudo para tirar os óculos de sol e estabelecer a toada de um concerto feito com humor, agitação, activismo e festa da rija.
Com dois Manuais editados em capa dura – de Cortejo e Romeria -, Cuevas mostrou ser um comunicador nato, com tempo de sobra para construir um altar feito de cartazes, uma bandeira da Palestina, uma fotomontagem real ou outros objectos que o público lhe ia entregando quase a pedido.
Pelo caminho, não faltaram alfinetadas à Igreja – “Gosto que as lésbicas e os maricas não tenham tendência de casar pela Igreja. Não gosto de igrejas ou do Pinterest. Para mim são o mesmo. Fruto do demónio.” -, ao ensino praticado na escola – expiado no tocante “Dime, Ramo Verde” -, uma canção sobre alguém que vai de comboio a caminho de Lisboa e se apaixona pelo revisor – “El Chacachá del Tren”, cover de um tema dos El Consorcio – ou o lembrar dos assassínios, em todo o mundo, de gente privada da sua liberdade – como em “Rambalín”, tema dedicado a Rambal, “maricón de nacimiento/ Una cosa mítica en Xixón”, assassinado em 1976.
Numa sucessão de Temazos e de música para bailar, o encore fez-se de dois momentos com muita intimidade – “Rambalín” e “Muiñeira para a filla da bruxa” -, rematados com o hino “Romería”, com Cuevas a descer para fazer a festa. No agradecimento da praxe, os músicos chegaram-se à frente para um bailarico encenado, cumprindo à risca o que Rodrigo Cuevas havia dito a certa altura: “Estamos aqui para vos divertir e para nos divertirmos”. No próximo regresso, ofereçam-lhe a merecida coroa.
Fotos: Pedro Soares
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Promotora: Uguru
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