Em 2009, a PETA – People for the Ethical Treatment of Animals – decidiu meter a pata no mundo musical, convidando uma banda a mudar o seu nome para Rescue Shelter Boys. Neil Tennant e Chris Lowe até que se mostraram sensibilizados com a causa animal, mas a verdade é que, para nosso contentamento, os Pet Shop Boys continuaram a ser, até hoje, os Pet Shop Boys. Até porque, diga-se em boa verdade, Rescue Shelter Boys era nome para não vender uma mísera T-Shirt.
Formados em Londres no ano de 1981, os Pet Shop Boys já ultrapassaram a marca dos 100 milhões de discos vendidos no planeta e, segundo reza a história do Guinness, são a banda britânica de maior sucesso. Em Portugal, nunca caíram no goto das promotoras, contando-se pelos dedos de uma só mão as vezes em que foram convidados a pisar palcos portugueses. Antes da sua passagem pela edição de 2023 do Primavera Sound Porto, a última visita havia sido em 2010, no belo cenário do Meco, num espectáculo desavergonhadamente pop que ficou inscrito como um dos grandes momentos de sempre do SBSR.
A serem um livro aberto, os Pet Shop Boys seriam essa obra-prima intitulada “Alice no País das Maravilhas”. No seu universo há, tal como no mundo de Lewis Carroll, personagens inesquecíveis, criaturas fantásticas e lugares onde todos os sonhos podem acontecer. Mas, também, muita ironia, sarcasmo e uma forma muito própria de olhar para as relações de (des)afecto, tudo embrulhado com muita graciosidade, subtileza e uma inteligência fora do comum.
No dia menos concorrido (9 Junho) do Primavera Sound Porto 2023, os Pet Shop Boys ofereceram um concerto perfeito, percorrendo uma discografia que arrancou – no formato longa-duração – com “Please” (1986) e que, durante as décadas seguintes, foi sendo alimentada a um ritmo regular, ainda que pouca gente pareça ter dado conta disso. No Primavera da Invicta tocaram canções de 10 (!) diferentes discos, e ainda meteram os U2 com coros de “I Love You Baby” na mesma malha – o épico medley “Where The Streets Have no Name (I Can’t Take my Eyes Off You)”.
Começaram em modo duo, num cenário carregado de um preto e branco que poderia ter saído de uma reinvenção do 1984 de Orwell , mas cedo se foi instalando um clima de festa – é certo que o clássico barrete de Neil Tennant ajudou à causa -, a eles se juntando uma mini-banda que tratou de estender a palete sonora a um desfile de clássicos: Always on My Mind, Heart, It`s a Sin, Go West, Being Boring, West End Girls, Suburbia ou Domino Dancing não faltaram, enquanto imagens de uns jovens Neil e Chris – sempre com aquele ar de mau rapaz – iam passando no ecrã.
A parafernália de 2010 do SBSR, com dançarinos a rodos e construções em palco que fariam inveja a muito modelo da Lego, deu lugar a um cenário mais contido mas nem assim menos celebratório, onde cada uma das canções surgiu com a força de um hino. Quatro décadas depois, a verdade continua a ser esta: com estes dois, nunca nos iremos sentir aborrecidos.
Nota breve
Grande fim de tarde aquele proporcionado pelos NxWorries, a banda de um só disco, um EP e uma mão cheia de singles formada por Knxwledge e Anderson .Paak. Funk, disco e muito groove arrancaram para um Regresso ao Futuro musical que incluiu, ao estilo de uma cerimónia especial da MTV, momentos para mais tarde recordar, com Leny Kravitz ou, pasme-se, Whitney Houston, à boleia do clássico “I Wanna Dance With Somebody”. Uma festa.
Fotos: Hugo Lima
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