O sorumbático cantor americano Mathew Houck editou “Muchacho”, sexto álbum sob o nome de Phosphorescent, em 2013. O disco foi um marco na sua carreira: as vendas eclipsaram tudo o que tinha lançado durante a década anterior, levando a sua música a um público mais vasto, muito graças ao genial primeiro single, Song for Zula.
Entretanto o tempo passa, e a vida de Houck é hoje muito diferente: casou, mudou-se de Brooklyn para Nashville, conheceu as alegrias da paternidade (duas vezes) e editou um (fabuloso) álbum ao vivo – “Live At The Music Hall”. No final do ano passado voltou à carga, com a edição do sétimo álbum de originais, “C’est La Vie” (2018, Dead Oceans).
Naturalmente, o espaço mental em que Mathew se encontra já não é o mesmo. “Muchacho” trazia a reboque muita má-vida, solidão e cicatrizes de coração partido. O sucesso desse disco implicava também um preço: eram muitos os holofotes a apontar para este novo trabalho.
Houck resistiu à pressão da melhor maneira: “C’est la Vie” é um disco surpreendentemente animado, cheio de canções cristalinas, directas e, no entanto, entregues com leveza e descontração. É o produto de um artista mais ponderado: um salto do turbilhão da vida loca para o equilíbrio da maturidade.
O disco abre com um cântico carregado de dramatismo: Black Moon / Silver Waves instala uma atmosfera poeirenta, como se fosse uma vista larga do deserto no primeiro plano de um qualquer western.
O primeiro single, C’est La Vie n.º 2, espraia-se numa atmosfera luminosa, quase beatífica, enquanto Houck canta, a sua voz hesitante e amarelecida a acrescentar o seu colorido muito próprio. É um tema esperançoso, um relâmpago de claridade encharcado em reverb.
New Birth in New England é mais um ponto alto. Cruzamento entre Vampire Weekend e Paul Simon, com uns vestígios de Willie Nelson à mistura, é uma música alegre, orelhuda, de alguém que está de bem com a vida. Dedicada à filha de Houck, inclui mesmo um trecho com o batimento cardíaco da bebé, ainda na barriga da mãe.
O álbum está cheio de momentos incríveis: a atmosfera elegante de My Beautiful Boy, assente nas notas dilatadas da pedal steel guitar; a melancolia flutuante de Christmas Down Under, com inventivos efeitos de vocoder na voz de Mathew; a propulsão da batida de Around The Horn; tudo detalhes preciosos de um disco coeso e confiante.
Ainda que caminhe próximo da folk e do country, Houck sempre conseguiu fugir à categorização, mantendo-se como uma ilha de independência e originalidade indie. “C’est La Vie” não é excepção. Tem sido visto como o disco da maturidade de Phosphorescent, a banda sonora de uma certa sensatez que só as 40 primaveras podem trazer. Não é apenas mais um disco, é a vida.
Phosphorescent vem a Lisboa apresentar “C’est La Vie” já no próximo dia 6 de Junho.
O concerto será no LAV – Lisboa ao Vivo e os bilhetes já estão à venda nos locais habituais.
Promotora: Uguru
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