É incrível o quanto a vida pode mudar em menos que nada. Peguemos, como exemplo, no caso d’O Terno: há um ano, eram um segredo bem guardado pelos amantes de música brasileira no nosso país e, nos dias de hoje, são já um caso sério de sucesso.
Não sabemos bem como é que a coisa se deu; se foi graças ao sucesso de “Recomeçar” – disco a solo do vocalista Tim Bernardes -, a partilha de palco com os Capitão Fausto ou a boa relação que criaram com Salvador Sobral. Certo é que tivemos um Capitólio praticamente lotado para os acolher novamente, feito ainda mais notável quando se tem em consideração o preço algo exorbitante dos ingressos (25€).
O mais recente disco da banda, <atrás/além>, mote para o concerto, bebe um pouco desse dito “Recomeçar”, pelo menos julgando pela sonoridade de teor calmo e apaziguador que em muito contrasta com as pingas de suor psicadélico de trabalhos anteriores. Como tal, e para manter a coerência, a noite começou com a banda sentada e ao som de “Tudo Que eu Não Fiz”, registo melancólico que permite desde logo estabelecer uma química com um público facilmente enamorado.
“Nossa, é maluco tocar músicas tão calminhas com gente de pé”, diz Tim Bernardes, numa das múltiplas tiradas com que ia conquistando o público e tornando o Capitólio num convívio entre amigos. De facto, as canções ‘calminhas’ saboreavam-se bem, ou não fosse a sonoridade de O Terno doce como um brigadeiro. Por outro lado, os sucessivos berros por parte de alguns membros do público a pedir determinadas canções demonstravam que aquilo que se pretendia era festa carioca.
Demorou até lá se chegar, ou não se passasse primeiro por “Volta e Meia, “O Bilhete” ou “Pra Sempre Será”, mas quando “Não Espero Mais” surge com a banda finalmente erguida, aí sim se sentiu a verdadeira essência de O Terno, acompanhada por múltiplos sorrisos da fervorosa legião de simpatizantes da banda.
Até lá, e longe de querermos soar a gente mesquinha, foi difícil não vir ao pensamento que o uso em demasia de instrumentos ou melodias pré-gravadas ia danificando a possível ligação entre as canções e o público. <atrás/além> é um disco que pede mais músicos ao vivo para recriar todas as suas harmonias e, nesse aspecto, O Terno pecaram. Mas ninguém ficaria magoado ou desapontado quando se é brindado com grandes canções como “Culpa” ou “Volta”, mesmo que acatem uma tristeza adjacente de colocarem ponto final àquela noite tão serena.
Tim Bernardes, Gabriel Basile e Guilherme D’Almeida. Estes são O Terno, e já ninguém dúvida que são um verdadeiro caso de sucesso da música brasileira pelo nosso Portugal. Mas para a próxima, e certamente contamos com tal, um pouco mais de aparato não seria nada mal pensado.
Fotos: Carolina Triches
Promotora: Sons em Trânsito
Sem Comentários