Arranca esta noite, no aquário de Lisboa que oferece a melhor banda sonora, a temporada de concertos para 2025. Ficam as devidas apresentações do que pode ver e ouvir, em Janeiro, na ZDB, em Lisboa.
QUINTA 9 / 21H
Kokota Mabaya Duo ← Maria Radich (PT/AO)
A violinista Maria do Mar e o percussionista César Burago, figuras incontornáveis das cenas experimental e improvisada portuguesa, apresentam-se neste raro formato – Kokota Mabaya Duo – onde apreciam em especial as fronteiras estéticas esbatidas e as transversalidades entre linguagens (a clássica e a do jazz, por exemplo), num plano de possibilidades e impossibilidades métricas em que o violino pode servir para a criação de texturas e a percussão construir planos melódicos. Na primeira parte, Maria Radich, bailarina, coreógrafa e cantora, tem participado em diversos concertos de música improvisada e, actualmente, faz parte de um dueto de voz e electrónica com Carla Santana e do grupo de música improvisada Lantana.
SEXTA 10 / 22H
+9999: Bleach Mane & Mizu ← warupmaria ← 7777 の天使 ← Agressive Girls ← Um6ra (PT)
Primeira edição de +9999, noite com o alinhamento de DRVGジラ e Swan Palace, onde convergem os sons etéreos do duo 7777 の天使 (seven angels) formado pelos próprios, o caos sombrio do trap/rap de Bleach Mane + Mizu, o fascínio místico criado pela fusão de darkwave, post-punk e shoegaze de warupmaria e os beats barulhentos e a voz crua e sentimental do power duo Agressive Girls. Tudo coroado pelo DJ set de Um6ra, artista emergente que está a impactar as cenas de dance e trap com performances profundamente emotivas e enérgicas.
QUARTA 15 / 21H
Milan W. ← Melrose (BE/PT)
Desenhando uma trajectória intrigante, mas em consonância com estes tempos de guinadas e visões múltiplas, Milan W. chega à ZDB num momento de revelação e maturidade com a edição mais ou menos recente e para memória futura de Leave Another Day na certeira STROOM – considerado o álbum de 2024 para a Boomkat. Dream pop algo barroca, a evitar derivações passadistas do Shoegaze mais inócuo, plena de uma emoção que se vai revelando ao seu próprio tempo. Na primeira parte, ethereal, transcendente, mística, hipnótica, Melrose procura navegar intuitivamente as ondas sonoras, através do improviso com a lira e voz.
QUINTA 16 / 21H
Will Guthrie & Koshiro Hino ← usof (AU/JP/PT)
Encontro entre duas figuras já bem reconhecidas de andanças por este país, a darem continuidade a um trabalho conjunto após estreia absoluta no Cafe OTO e que nos deixa cheios de expectativa. Will Guthrie espelha-se de forma absoluta numa exploração contínua em torno das potencialidades infinitas da bateria e da percussão, absorvendo linguagens que vão do free jazz, à electro-acústica, ao minimalismo ou ao gamelão indonésio. Koshiro Hino é uma figura superlativa de aventuranças sónicas em solo nipónico, seja através do não-rock hipnótico dos goat(jp) à conjura de electrónica e violoncelo, ou à sua exploração a solo. Na primeira parte, usof, um dos co-fundadores das editoras Rotten Fresh e surf, parte do coletivo Living Room, e apresentador do programa “for 0” na rádio Quântica.
SEXTA 17 / 22H
Margarida Garcia & Manuel Mota ‘Domestic Scene’ ← João Gato (PT)
Unidos por uma cumplicidade franca e profunda há mais de duas décadas, Margarida Garcia e Manuel Mota têm vindo a criar ao longo desta temporada em progresso contínuo, um trajecto singular de ambas as partes que se foi cruzando por inúmeras vezes em palcos, parcerias e discos. Domestic Scene, mais uma prova cabal dessa sintonia única entre estes dois artistas superlativos, sonda territórios ainda por mapear através de uma bruma onde a guitarra eléctrica de Mota e o baixo de Garcia se enredam num todo de lirismo suspenso, onde notas lânguidas se vão libertando pacientemente numa progressão sem inícios nem fins demarcados. Saxofonista activo na área do jazz, João Gato aborda, neste set a solo, a possibilidade de ausência e omnipresença através de uma pesquisa micro-tonal e de contraponto individual, com o objectivo de construir uma narrativa intensa e angular, porém controlada.
SEXTA 24 / 22H
gushes ← roadkill ← Maripool (US/PT)
gushes é uma performance art-prog hiper-rítmica de loop de guitarra de Jennae Santos, artista de música, performance e instalação com uma propensão para florais ferozes e psicadelismo excêntrico. Vive em Brooklyn, cresceu na Bay Area e tem uma linhagem que atravessa o arquipélago das Filipinas. Estas linhas costeiras variadas – urbanas/queer, poderosas/dramáticas, vibrantes/tropicais – compõem o portal eco-erótico a partir do qual a sua arte se espalha. Os roadkill são uma banda composta pelos jovens Lucas Souza e Nia Fernandes que compõem, escrevem, gravam e produzem todas as suas músicas. Em Abril de 2024, lançaram o seu primeiro disco What to Do When The Earth Swallows You Whole. Maripool é uma “one girl band” que trabalha maioritariamente a solo, escrevendo e tocando os seus arranjos de bedroom-pop com guitarra. Recentemente, assinou contrato com a editora americana Smoking Room e, em 2024, Maripool lançou o seu muito aguardado segundo EP a day that feels like nothing at all.
SÁBADO 25 / 22H
Jabu ← Gibrana Cervantes ← Matt Evans (UK/MX/US)
Projecção espectral e real de uma identidade que intuitivamente nos traz imagens e sons de Bristol, Jabu – trio formado por Jasmine Butt, Amos Childs e Alex Rendall, com associações à crew dormente/extinta da Young Echo – tem traçado uma psico-geografia sonhadora da cidade que recolhe as linhagens, já por si indissociáveis, da música aí geminada, do post-punk, à cultura sound system, ao trip hop e ecos electrónicos transviados de todas elas do agora para uma cartografia de canções enevoadas. Gibrana Cervantes é uma musicista mexicana pioneira, conhecida pelas suas contribuições únicas para o panorama da música experimental como violinista, compositora e improvisadora – membro chave do conjunto experimental Amor Muere, onde colabora com Mabe Fratti, Concepción Huerta e Camille Mandoki. Matt Evans é um baterista e produtor de Brooklyn que cria música electroacústica que tem em conta a interconectividade, a incorporação e a paisagem.
QUARTA 29 / 21H
Julián Mayorga ← Fofis (ES/PT)
O cantor e compositor colombiano Julián Mayorga regressa com o seu nono álbum, uma fatia absurda e barulhenta de psicadelismo pós-cumbia. Chak Chak Chak Chak é uma mistura febril de guitarras eléctricas angulares, batidas em circuito, percussão e cantos rápidos, com influências que incluem Tom Zé, Tom Waits e Captain Beefheart. Fofis é uma apresentação da dupla composta por João Doria (guitarra de algumas conhecidas obras Cafetra) e pelo pônei Chikki Chikki, que nos leva numa aventura mágica.
QUINTA 30 / 21H
Tiago Sousa ‘Organic Music Tapes IV’ ← himalion (PT)
O quarto volume da série Organic Music Tapes vem encerrar este ciclo que tem transformado de forma significativa a música de Tiago Sousa. Composições em estado fluido, que formam nebulosas de sons de contornos imprecisos para piano, órgão e taped loops, a partir de técnicas inauguradas pelo minimalismo americano, nomeadamente por compositores como Steve Reich, Terry Riley ou Charlemagne Palestine. himalion irá apresentar-se em formato solo set para apresentar WYSIATI, a par com alguns temas dos registos anteriores.
SEXTA 31 / 22H
Super Ballet c/ Shackleton ← Polido (UK/PT)
Com uma trajectória profundamente idiossincrática, Sam Shackleton tem mapeado novos cenários e configurações à electrónica actual. Agitador na forma de pensar e recriar a herança musical jamaicana, foi nesse sentido um dos pioneiros do dubstep. Talvez naquele que seja o seu disco mais ambicioso à data, Music for a Quiet Hour/The Drawbar Organ Eps continua, anos depois, a transportar-nos para bem longe. Em 2024 e no formato de colaboração, surpreendeu com dois elegantes trabalhos a meias com Ben Chasny aka Six Organs of Admittance e Holy Tongue, de Valentina Magaletti. Talvez nunca como agora tenhamos esta visão experienciada, e de proporção holística, de que Shackleton é um epicentro e íman energético para música profanamente sagrada. Polido é um músico e artista multidisciplinar, o seu trabalho movimenta-se no eixo da história da música portuguesa, memória cultural e fenómenos sociopolíticos, à procura de algum limiar entre o reconhecimento e a alienação destas formas.
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