A certa altura do concerto dos Parcels no NOS Alive, Anatole “Toto” Serret, percussionista da banda, materializa em palavras todo um estado de espírito geral: “There`s a vibe in here tonight”. Se, para alguns, a ideia de ter uns rapazes brancos a arrasar no funk recorda um pouco aquele anúncio do restaurador Olex, hoje um marco revisionista do racismo publicitário – “Um preto de cabeleira loura ou um branco de carapinha não é natural, o que é natural e fica bem é cada um usar o cabelo com que nasceu” -, outros olham para rapazes australianos, com aquele ar de quem acabou de enfiar as pranchas na carrinha para ir apanhar umas ondas, como gente capaz de pôr até mesmo a Manuela Ferreira a dançar, com um top revelador, em cima de uma coluna.
Em 2018, na sua estreia em Portugal, os Parcels actuaram no Super Bock Super Rock num sunset às seis da tarde, transformando o Parque das Nações numa pista de dança a céu aberto – assim como se a varanda do Lux tivesse caído ao nível do rés do chão. Um concerto com muito humor à mistura, que terminou com um momento a capella que ficaria um mimo num dos futuros volumes do Fever Pitch. No ano seguinte foi a vez de Paredes de Coura, numa actuação de uma hora que terá sido, muito provavelmente, a melhor coisa de todo o festival, num concerto onde iam passando imagens que poderiam ser frescos frutíferos descobertos numa visita sem guia a um qualquer museu europeu.
No concerto do Alive, sabendo que iriam tocar perto da uma da matina – aquela hora em que as canetas já falham ou, em alternativa, as toxinas começam a bater forte -, os “fab five” australianos testaram as ancas colectivas ao limite, num concerto de hora e meia que teve todo o ar de um live set do Sónar. Com um embalo a resvalar para o techno, a banda desfilou por uma série de clássicos que iam sendo cantados, entoados e trauteados por uma multidão que parecia – e era – demasiado numerosa para uma tenda que, durante quatro dias, foi fazendo as vezes de uma sauna onde, estranhamente, tudo andava vestido.
Quase a terminar, enquanto a cerveja ia caindo do ar como chuva tépida, o muito conversador Anatole voltou à carga: “Vou fechar os olhos. Quando os abrir, quero ver um clube de dança”. Sem precisar de esfregar uma lâmpada empoeirada, viu o seu desejo concedido entre braços no ar, palmas sincronizadas e gente que tentava as cavalitas para espreitar do alto esta celebração. Estes cangurus sabem saltar (e tocar). Que festão!
Fotos: Hugo Macedo
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