Conhecemos Miguel Reis como Tio Rex, explorador da folk acústica em discos como o mais recente EP “5 Tragedies”, de 2018. O seu projecto em duo, Museum Museum, desvia os holofotes do cantor para a sua parceira Marta Banza, que veste aqui o papel de compositora principal.
A banda de Setúbal lançou este ano o primeiro EP, intitulado “Bare Me Raw” (2019, Kimahera), com seis bucólicos passeios por paisagens de horizontes largos, temas a inspirar e expirar longamente, perfeitos para desatar o nó dos dias difíceis.
Roubamos a descrição do projecto a uma entrevista de Marta Banza: “Museum Museum é muito minimalista e é uma fusão quase imperceptível da musicalidade de nós os dois, mais folk do Miguel, mais clássica da minha parte”, afirma. “O piano ganhou o seu papel porque é o meu veículo musical principal”.
Ao mesmo tempo que a voz grave do Miguel contrasta com a suavidade da voz da Marta, a guitarra acústica passa então a partilhar o protagonismo com o piano de travo clássico, o que resulta numa receita algo diferente do trabalho a solo.
O disco começa com um elegante instrumental, ”Bittersweet Basics” – a guitarra acústica abre caminho, suavemente, para um eco de piano, tudo muito sereno, como um objecto precioso, pleno de silêncios. De seguida, “Melting Clocks” constrói-se em volta da voz e do piano da Marta. É uma música com mais dramatismo, feita de texturas clássicas misturadas com o sabor folk do banjo e da voz do Miguel – e ainda um assobio à Andrew Bird lá pelo meio.
“Heartbreak, Heartburn, Heart Attack” prossegue em ritmo tranquilo e distendido: soa muito bem a vibração Coheniana (de Leonard Cohen) da voz masculina com as subtilezas da voz feminina. Há ainda a adição de cordas clássicas a sublinhar a melancolia, e um refrão espaçoso que abre a vista para um lado mais pop.
O primeiro single, “My Grandmother’s Words”, é um dos temas mais bonitos do EP, com a voz despida da Marta envolta em teclas e guitarra acústica, em diálogo com a voz de barítono do Miguel. As duas vozes “casam” muito bem nas harmonias, criando um interessante jogo de verso e resposta entre os dois.
“By The End” nasce com o típico “fritar” do vinil, no qual assenta uma melodia minimal. Há um silêncio e a canção prossegue, como uma canção de embalar, em crescendo, numa balada sentimental tecida com mão firme. A produção de todo este EP é consistente e cuidada, atenta ao pormenor: desde os floreados orquestrais até aos arranjos cristalinos de guitarra, tudo se enquadra sem costuras à vista.
Terminamos o passeio com “Bittersweet Departure”, mais um pedaço de delicada música de câmara, a fechar a órbita da música inicial. Fechamos assim a porta deste disco, com muita vontade de ver o projecto Museum Museum ganhar mais salas e corredores num futuro próximo.
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