Quem se lembra dos anos 90 – e mesmo do início dos 00 -, provavelmente ouviu falar de Coimbra como “a capital nacional do rock’n’roll”. Os principais culpados foram os Tédio Boys, malta que encarnou na perfeição o espírito rock’n’roller, andou em tour pelos Estados Unidos, tocou na festa de anos de um Ramone e, depois, deu origem a algumas das melhores bandas rock nacionais: Wraygunn, Bunnyranch, D3o, Parkinsons, Tigerman, Twist Connection, Tiguana Bibles… uff, a lista é imensa.
Depois, a coisa parece ter abrandado. “Parece”, porque continuámos a ver surgir, em Coimbra, muita coisa boa, se bem que já não tanto no centro do furacão rock’n’roll. Os A Jigsaw, os Birds Are Indie… tudo gente boa, a provar-nos pela enésima vez que Coimbra é uma cidade altamente musical – e não apenas estudantes, tunas, praxes e fatos do Batman. Ups, vou parar para não ferir susceptibilidades.
De repente, Coimbra volta a reclamar para si o estatuto de capital nacional do rock’n’roll. E tudo por causa de um novo festival de verão, chamado Luna Fest, que vai aterrar na cidade entre os próximos dias 16 e 20 de Agosto. A ideia e a organização são de dois filhos da terra, ligados ao rock’n’roll da cidade desde sempre: Victor Torpedo, o guitarrista que era dos Tédio Boys e agora é dos Parkinsons – ou dos Pop Kids -, e Tito Santana, responsável por um dos mais emblemáticos espaços da cidade – o Pingamor.
O festival chega com estrondo, com vários nomes fortes da história do rock internacional, se bem que entretanto um deles tenha ficado pelo caminho – os Devo, que se reuniram para uma tour de despedida, cancelaram a sua passagem por Portugal e deixaram muita gente triste, este vosso escriba incluído. Entretanto, já foram anunciados os seus substitutos: os Parkinsons, precisamente a banda de Victor Torpedo, que em tempos abanaram as fundações do punk britânico e que continuam a galvanizar uma legião de fãs incondicionais. Além disso, olhamos para o cartaz e encontramos muitas outras coisas boas: John Cale, esse mesmo, o dos Velvet Underground, que já este ano – e já octogenário – lançou um dos melhores discos do ano; os Buzzcocks, instituição do rock inglês; os Gang of Four, reis do industrial pós-punk; ou os Damned, outros membros da história do punk britânico.
Mas há mais. Afinal de contas, são 4 dias intensos na Praça da Canção, em Coimbra. Mas se há coisa que não encontramos no alinhamento são muitos nomes nacionais. Se retirarmos os Parkinsons da equação, a excepção são os 5ª Punkada, o projecto rock criado por utentes da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra e que, no ano passado, lançou um disco com colaborações de gente como a Surma ou o próprio Victor Torpedo. O Luna Fest não podia ser mais inclusivo que isto.
A verdade é que, com tanto festival a acontecer em Portugal, continuava a haver um nicho por preencher: o do rock’n’roll. Este é um espaço que tem estado mais ou menos vazio desde que o Barreiro Rocks deixou todos os rockers deste país (e arredores) órfãos. Taalvez esteja a ser injusto, já que existem vários certames dedicados ao rock por este país fora, como o SonicBlast em Moledo, o Amplifest do Porto e até o.. Rock in Rio Febras. Mas o Luna Fest chega com a força toda, com um cartaz cheio de nomes internacionais, lendas da música rock e um alinhamento quase unânime, que agrada a todos os que gostam do rock mais rápido, mais alto, mais alto e mais alto.
O lema do Luna Fest é “exigir o impossível”. Na verdade, é sempre o mínimo que devemos exigir dos nossos festivais de música. Por isso, aproveito já para exigir um nome para a edição do próximo ano: Neil Young.
2 Commentários
Onde encontro os preços? É possível acampar?
Olá Ana. Sugerimos uma espreitadela ao site oficial, está lá tudo:
https://www.lunafestcoimbra.com/luna/index.php?page=home-pt