Uma noite de Outubro invulgarmente amena recebeu o guru indie-rock Kurt Vile e os seus Violators. Vinte para as nove e havia já cerca de 20 pessoas à porta, uma amostra representativa do público: desde adolescentes imberbes até veteranos que já disseram adeus ao cabelo, mas não ao espírito rock n’ roll. Falava-se sobre música e percebia-se que quem por ali andava sabia ao que vinha.
Na simpática sala do LAV – Lisboa Ao Vivo, fios luminosos de laser azul percorriam, indolentes, o recinto. O dress code era tão ecléctico como o público, indo desde o fatinho cinza rato à t-shirt mais rockeira.
Às nove e trinta em ponto, Meg Baird e Mary Lannister deram início ás hostilidades. As duas amigas de longa data andam na estrada a promover o álbum “Ghost Forests”, com saída prevista para 9 de Novembro. A máquina de fumo, sibilante, lançava uma neblina bem a propósito do som das californianas – suaves melodias de guitarra, entrelaçadas com a harpa de Mary Lannister, traços de eletrónica sobre cama de folk clássico, com a voz suave de Meg Baird como cereja no topo do bolo.
O público, em vez de dançar, baloiçava suavemente. Final do set, aplausos educados, tendo os roadies aberto caminho para a principal atracção da noite – os dois roadies menos afortunados carregaram com esforço a enorme harpa para fora do palco.
O norte-americano Kurt Vile pode dar ares de quem caiu da cama directamente para o concerto, mas por baixo da farta cabeleira e da pose descontraída esconde-se um escritor de canções apurado. Vile pertence à mítica e venerável tradição americana de escrita de canções – tal como Neil Young ou Bob Dylan -, e a sua música está para lavar e durar.
A abrir, “Loading Zones” caiu que nem ginjas, deixando todos rendidos desde o primeiro segundo. O set focou-se nos temas do mais recente “Bottle It In” – a planante “Bassackwards”, aqui um pouco mais musculada, resulta muito bem ao vivo. Também “Check Baby” e “Skinny Mini” convenceram aos primeiros acordes.
Não faltaram, no entanto, temas mais antigos e emblemáticos, como “Goldtone”, “Runner Ups” – que Kurt interpretou sozinho com a sua guitarra – e “Wakin on a Pretty Day”, esta última tocada com uma intensidade e entrega fabulosas.
Durante o concerto, Vile colocava um solo a cada esquina, de forma espontânea – é um virtuoso do dedilhado, como se viu em temas como “Jesus Fever” e “Hysteria”, marcados por arrasadores solos de guitarra. “Girl Called Alex”, normalmente uma balada, ganhou uma camada de rock n´roll mais acelerada, com uns urros de Kurt a puxar ao punk nos refrões.
O músico trocou de guitarra praticamente em todas as canções, contando também com uma impressionante variedade de pedais de distorção, que ia pisando de forma decidida com as suas Vans vermelhas. Vile não é um comunicador nato, limitando-se a uns genéricos “we love you” e “It’s great to be back in Lisbon”, mas o seu charme discreto não deixou de conquistar a audiência.
A fechar tivemos direito a uma fantástica versão de “Pretty Pimpin’”, talvez a música mais conhecida de Vile, o ponto final para um concerto que deixou todos os presentes com um sorriso caloroso estampado na cara. Quem gosta do músico em disco, inevitavelmente gostará de o ver ao vivo – em palco, Vile consegue perder-se no seu mundo interior musical, levando os Violators e o público com ele na viagem. Até breve, Sr. Vile – e obrigado.
Setlist:
Loading Zones
Jesus Fever
Bassackwards
Hysteria
Goldtone
Cold Was the Wind
Runner Ups
Wheelhouse
Wakin On a Pretty Day
Girl Named Alex
Check Baby
KV Crimes
Skinny Mini
Wild Imagination
Encore:
Pretty Pimpin’
Fotografia: Tiago Ferreira
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Promotora: Ritmos – Agenciamento e Produção de Artistas e Espectáculos
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