Depois de ter marcado presença no aquário mais cool da cidade de Lisboa, conhecido carinhosamente como ZDB, o Deus Me Livro acompanhou mais um concerto da tour portuguesa de Josephine Foster, agora numa esgotada Casa da Cultura, em Setúbal.
Foster que decidiu trocar as voltas – e o alinhamento – ao público, antecipando-se dessa forma a Ka Baird, num cenário despido onde surgiu ladeada por duas persianas sem vista para a cidade. E, se há palavra que descreva este mini-concerto de Josephine Foster – terá ficado pelos 40 minutos -, ela será certamente esta: desinspiração.
No já longo percurso de Foster, artífice de uma música que parece vir de um lugar ao qual só poderemos chegar através dos sonhos, já tivemos um pouco de tudo: folk neo-romântica, blues carregados, canções para catraios, rock espacial, inspirações líricas que vão de Emily Dickinson à estética poética alemã do século XIX (ouça-se, por exemplo, “A Wolf in Sheep’s Clothing”, sempre com de forma expressiva e ainda com mais graciosidade.
Josephine actuou sozinha, na companhia de um estranho instrumento que parecia ser uma mistura de harpa e acordeão – chord harp? auto harp? chord auto harp? -, quase sempre usando uma palheta ou atirando-lhe objectos para cima de modo a criar alguns efeitos sonoros. Um instrumento que, na maior parte do tempo, soou desafinado, recusando uma união de facto ou uma relação descomprometida com a voz, tendo ficado no ar a ideia de que teria sido preferível que Josephine tivesse cantado a capella, se com isso impedisse tamanha dissonância. Ainda estivemos à sombra da harmónica mas, dito de outra forma, que pena que a guitarra, a sua fiel e habitual companheira de estrada, tivesse ficado em casa.
O início do concerto, aliás, foi de uma timidez tal que parecíamos estar ainda em modo sound check. A voz de Josephine chegava como se enviada através das ondas hertzianas de um rádio antigo e instável, mas a magia da sua voz carregada de ópera encontrava sempre um anti-feitiço soprado por umas cordas mal dedilhadas.
Os momentos mais felizes deram-se quando enveredou pela narração, assumindo o seu lado de contadora de histórias e a apetência para a fábula, falando-nos de lendas que soaram fascinantes mesmo que por perto não houvesse uma fogueira para compor o ambiente. Ainda assim, nem a curta actuação serviu para disfarçar alguma desinspiração, alheamento e sobretudo desilusão.
Seguiu-se a actuação de Ka Baird: estranha, desafiadora e excitante em muitos momentos, mas sobre isso já o João Castro disse tudo aqui.
Quanto à Casa da Cultura, em parte à boleia de uma parceria com a ZDB que se estende agora para lá dos nomes nacionais, começa finalmente a entrar no circuito musical nacional. Os destaques vão para as visitas de Katie Von Schleicher e de Tim Bernardes. E, se o primeiro tem um custo simbólico de 3€, o do brasileiro que está na moda é de entrada livre.
Fotos: João Santos
Próximos concertos Casa da Cultura | Setúbal
6 Abril | 22h00
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Entrada: 3€
7 Abril | 22h00
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Entrada: 3€
21 Abril | 22h00
Concertos ZDB
The Sunflowers
Entrada: 3€
28 Abril | 22h00
José Valente
Entrada: 3€
5 Maio | 22h00
Bloom (JP Simões)
Entrada: 3€
20 Maio | 17h00
Concertos ZDB
Katie Von Schleicher (EUA)
Entrada: 3€
26 Maio| 22h00
Círculo de Jazz
Beatriz Pessoa
Entrada: 3€
15 Junho | 22h00
Concertos ZDB
Tim Bernardes (BR)
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16 Junho | 22h00
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29 Junho | 22h00
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Entrada gratuita
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