Seja um disco, um concerto, na editora Tzadik haverá sempre uma imagem, uma estória que encontraremos associada a este nova-iorquino, de calças camufladas e casaco de cabedal, contorcido sobre si mesmo e sobre o saxofone. E, tenha o ponto de partida sido dado com os Napalm Death, Ornette Coleman ou um filme de Michael Haneke, cada um encontrará aquele momento que para sempre ficará marcado – o da viragem -, o da descoberta de John Zorn.
Pelo caminho que foi desbravando, a solo ou nos inúmeros projectos que integrou, pela prolífica discografia – muitas vezes com mais do que uma edição por ano – e, também, pela forte ligação que tem ao nosso país e, em particular, com o Jazz em Agosto, Zorn será, este ano, o nome e o mote para a edição deste ano do festival da Gulbenkian, baptizada de John Zorn Special Edition.
Fenomenologias da curiosidade permitem-nos descortinar mais combinações rítmicas que o próprio Zorn, atirando-nos para combinações entre anos e intervalos entre eles que, se não nos remetem para a ciência do oculto, andam lá perto. 25, 35, 30 ou se quisermos 1983, 1993, 2013, 2018. 25 anos (1993) que muitos se recordarão de o ver tocar, pela primeira vez, enquanto Painkiller, juntamente com Bill Laswell e Mick Harris, bem em frente ao Tejo, no já demolido Armazém 22. Dez anos antes (1983), a primeira edição de John Zorn em nome próprio – The Classic Guide to Strategy: Volume 1 e Locus Solus. 1983, ano que deste lado do Atlântico, em auditório no meio de jardim, nasce o Jazz em Agosto. Continuando na cabalística dos números, 30º aniversário do Jazz em Agosto e John Zorn em dose tripla, nas três primeiras noites.
Agarremo-nos então ao 35, à 35ª edição, delimitemos datas – 27 de Julho a 5 de Agosto – e tracemos linearidade sob pena de perdermos todo e qualquer detalhe que um cartaz desta grandeza merece. Assim e logo a abrir, literalmente, John Zorn + Milford Graves + Thurston Moore. Do carismático ex-membro dos Sonic Youth pouco há a acrescentar, presença assídua em palcos nacionais, ZDB por exemplo, e com residência artística nos Açores o ano passado, associada ao Tremor. Já de Milford Graves também pouco deveria ser necessário escrever, tal é a grandeza da sua obra enquanto exímio pesquisador sonoro e percussionista de eleição. Mas, e se tal for permitido, faremos ligeira incursão à programação do Indie Music para destacar o filme de Jake Meginsky (com 3 concertos já marcados em Abril para Lisboa, Porto e Viseu diga-se) e para o seu brilhante exercício visual e narrativo – Full Mantis.
Dia 28 de Julho, Mary Halvorson Quartet + Masada, emblemática formação de John Zorn com Dave Douglas (trompete), Greg Cohen (Contrabaixo) e Joey Baron (Bateria). Domingo, 29 de Julho, à tarde, a vertente de Zorn enquanto compositor, música composta por Zorn com interpretação de Barbara Hannigan (Voz) e Stephen Gosling (Piano) e, como temos a certeza de não nos cansarmos dele, à noite Zorn (órgão e tubos) com a habitual compagnon de route – Ikue Mori (laptop).
E a homenagem, ou melhor, a Special edition continua; seja através de colaboradores mais ou menos assíduos como Trevor Dunn e Marc Ribot, através de filme-concerto por Ikue Mori, de projectos editados pela Tzadik (Simulacrum), via Zorn em afã pela descoberta de músicos fora da norma (Robert Dick) ou através da projecção de filmes, o realizado pelo cineasta francês Mathieu Amalric – John Zorn (2016 – 2018), por exemplo, ou ainda através de projectos portugueses na órbita do prolífico músico nova iorquino como The Riot of Trio e Slow is Possible. Por fim, falaremos de Zorn certamente, mas pelas enormes possibilidades que este abriu assinalamos com ponto final e exclamação o concerto dos desvairados Secret Chiefs 3.
Convoca-nos a prudência, coisa estranha perante Zorn, mas este artigo obriga a consulta de folheto informativo. Para que não se perca nada de… Zorn. Mais informações aqui.
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