Na capa de “Joy as an act of resistance” (Partisan Records, 2018), distribui-se aleatoriamente um conjunto de senhores de indumentárias respeitáveis a darem largas à libertação de energia ou de uma raiva que parecem conviver, estranhamente, com uma tímida alegria atmosférica. O que fazem senhores com ar tão jovial em poses inconvenientes? Eventualmente estarão a apreciar o enorme travo de ironia no nome do disco, que marca o regresso dos Idles, pós “Brutalism”, segurando o estandarte do punk em 2018.
A trilha sonora começa com “Colossus”, um opener que faz adivinhar a chegada de uma catarse sonora. As melodias são um turbilhão incoerente onde nada é mais dominante que a bateria, que interage com uma voz que abraça as canções tornando-se o vector dominante, ladeada por um baixo persistente.
“I´m scum” remete-nos para a cidade de Manchester por alturas de um “Unknown Pleasures” – podiam inclusivamente ser os The Fall, e aqui provavelmente a repetição do que se fez nos anos 80 vai diminuir o significado do que os Idles fazem actualmente, sendo de mau tom não destacar a autenticidade do seu trabalho face à qualidade das novas bandas emergentes.
Joe Talbot, o vocalista, expõe-se como um catálogo de vulnerabilidades, pessoa que se apazigua gritando e dissolvendo, em canções, os seus infortúnios. Traumas pessoais protegidos por riffs de guitarras e tentativas desesperadas de libertação: “I feel free coz i smash memories and fuck tv”, ouve-se em Television.
Coexistindo cronologicamente com um Brexit de difícil aceitação e assumindo-se como membros pró-Imigração, a percepção de uma sociedade agitada encontra-se esbatida neste disco.
O sucessor de “Brutalism” surge como uma prova de vida, um registo que cumpre a missão de dissipar dúvidas quanto ao lugar dos Idles num futuro a longo prazo – embora essa certeza tenha de conviver com a imprecisão da sua classificação musical.
26 Novembro @ Hard Club, Porto
27 Novembro @ LAV – Lisboa ao Vivo
Promotora: Everything is New
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