Os Foreign Poetry nasceram na capital do país agora a braços com o Brexit, fruto de uma parceria de estúdio entre o produtor Moritz Kerschbaumer e o cantor e compositor Danny Geffin. “Grace & Error On The Edge Of Now” (Pataca Discos, 2019), disco de estreia lançado este ano, usa e abusa de texturas e diverte-se com arranjos, resultando num lote de onze temas onde, às raízes folclóricas, se acrescentam apontamentos electrónicos e orquestrações com camadas suficientes para resistir ao mais austero dos Invernos. Um disco que, com paragens e pastagens diversas, tanto convida a uma silenciosa introspecção como a um mergulho no bulício do mundo.
“Kullu” abre o disco com uma folk de peito feito, movendo-se entre o acústico e o eléctrico, com um twist a meio caminho a fazer lembrar uma novela policial, onde um baixo ondulante e gingão, qual Philip Marlowe, surge acompanhado por coros ondulantes.
“Places” poderia bem ser banda sonora para o lançamento de uma missão espacial, uma malha com ar retro movida a espasmos electrónicos e impulsos suficientes para fazer aumentar a pulsação – não se aconselha medir a tensão arterial durante a audição. Há avanços e recuos, uma suspensão na descrença que nos traz de volta os Sigur Ros numa envolvência sonora de balanço perfeito. Com jeitinho e uma boa remix teríamos aqui material para as pistas de dança.
Aqueles teclados a soar aos 80’s estão por todo o lado em “MHL”, numa viagem pop a que não falta a electricidade ou a dança dos pratos de uma bateria.
“Word” começa com um pianinho sacado ao Trainspotting, fundindo de fininho o clamor das teclas e dos coros – um tema que fica de porta aberta às muitas transformações musicais que vão surgindo pelo caminho. Música de dança para dançar com os pés ao léu e de olhos fechados.
“Sparks” abre a torneira de água prometendo o classicismo das cordas, mas como em tudo neste disco a transformação dura apenas uns segundos.
Em “Ghosthead” há cordas que cantam como gaivotas, em fantasias imaginadas por piratas enquanto desenhavam o mapa que levaria ao tesouro. Uma folk que aponta ao desejo de negrume dos Six Organs of Admittance, mas com espaço suficiente para encaixar uns teclados a la Doors. Mais uma candidata a rolar nas pistas de dança com a bênção de uma boa remix.
“Chain of Events” é parente não muito afastada dos alt-J, parentesco que por vezes conseguimos descobrir em cordas e teclados.
“Freeform” é mais um mergulho em queda livre nesta cascata sonora, onde se destaca em fundo um teclado em modo Stranger Things.
Em “Hills” começamos por dançar numa praia do Rio de Janeiro, acabando a ver o sol nascer de cerveja na mão a escutar os The National em versão 2.0.
“Harbour” mostra explosões no céu enquanto, num barco de madeira, vamos tentando descobrir um porto seguro.
“Icarus Fell” encerra a viagem fazendo-nos regressar à casa de partida, com uma folk que se faz sentir nas cordas de um baixo que tenta escapar à melancolia – e que recebe conforto no ombro de solos de guitarra. Ajudados por palmas bem sintonizadas, repetimos um mantra que afasta o erro e nos traz a graça: “The best for me is coming home“.
Misturado por Luís Nunes – que, nesta geografia londrina, se chamou um dia Walter Benjamin – e Moritz Kerschbaumer e masterizado por Tiago Sousa, esta rodela que vem com o selo da Pataca Discos contou com a participação de gente amiga como Anna Etherington (violino), Alice Febles Padron (coros), Luís Nunes (bateria, percussão e coros) e Tony Love (bateria).
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