Assina no BI como Alexandre Monteiro, mas é como The Weatherman que vem editando as suas preciosas rodelas musicais desde que, em 2006, nos chegou aos ouvidos o brilhante “Cruisin` Alaska”.
Este ano, The Weatherman armou-se em mãos largas e ofereceu-nos “Eyeglasses For The Masses”, o seu quarto longa-duração que, estranhamente, chegará às lojas a 29 de Abril em edição de autor. Um disco esculpido com o entusiasmo e a paixão Pop por alguém que acha que a música pode mudar o mundo e, em dias mesmo bons, salvar vidas. O Deus Me Livro colocou algumas questões a The Weatherman que, ainda assim, não arriscou fazer qualquer previsão sobre o estado do tempo.
Ao fim de dez anos, continuas a acreditar que as canções pop podem mudar o mundo – ou, pelo menos, a torná-lo um sítio mais habitável?
Definitivamente. E acredito que, tal como aconteceu a mim, a música pop pode não só mudar uma vida como também salvá-la. Mas é uma fé constantemente abalada, muita gente só precisa da pop apenas como entretenimento. Eu penso sempre na pop como algo artístico, que desafie, com mensagem e a dose certa de conteúdo.
Consideras-te um tipo romântico?
Em certo sentido sim. No mundo em que vivemos é importante conservarmos a capacidade para sonharmos um mundo melhor. Se fôr sem recurso a drogas, melhor.
No teledisco para “Calling all monkeys”, somos brindados com um flashback de momentos nefastos da história da Humanidade, terminando com a mensagem hashtaggiana #wefailed. Perdeste a fé na humanidade?
Não perdi em definitivo, mas tenho momentos em que fico perto de o fazer. Há coisas a acontecer no mundo em pleno séc XXI que não era suposto. E basta ligar a TV em horas de prime-time para o perceber.
Por outro lado, em “Unpack my mind”, dizes a uma miúda que já nada importa porque um mundo novo está a caminho. De que mundo se fala aqui (ou é apenas uma frase de engate)?
A maior parte das minhas músicas de amor é sobre rupturas. Até pode parecer que não faço outra coisa na vida além de terminar relações, mas é um facto que isso me inspira para escrever.
Pensaste em “Eyeglasses For The Masses” como um disco conceptual, ou são “apenas” temas dispersos sem uma aparente unidade?
O desafio para este disco era como fazer conviver uma colecção de uma dezena de músicas, que parecia ser muito heterogénea, num universo próprio. E acho que consegui isso. Acho que é o meu disco mais consistente nesse aspecto.
“Eyeglasses For The Masses” parece estar embebido numa certa nostalgia, sobretudo musical, que vai beber algumas canecas sobretudo à pop anglo-saxofónica (é impossível não pensarmos nos Beatles) e a algum psicadelismo. É daqui que vem a tua formação musical enquanto ouvinte?
Sim, sempre ouvi muita música pop e rock, sobretudo inglesa e americana, particularmente discos que saíram entre a segunda metade da década de sessenta e a primeira de setenta. Quanto aos Beatles é como se eles vivessem dentro de mim. Não o posso renegar: é como se fosse filho de uma mãe e de um pai, e isso estar bem estampado na minha face ao ponto de não adiantar dizer que não sou filho desses pais, porque é bem visível.
Quando as músicas te surgem na cabeça já ouves os coros e os sopros a agigantar-se? E onde começam as tuas canções? Num verso, em alguns acordes ao piano?
Cada vez mais componho ao piano… a maior parte das minhas canções nascem ao piano, é um facto. Depois vêm as melodias já acompanhadas com letra, que normalmente não passa de uns rascunhos que depois vou aprimorando.
O que anda de momento a rodar nos teus headphones, aparelhagem ou outros dispositivos musicais?
Há tempos andei a ouvir o disco dos Temples, o do Tobias Jesso Jr.; a nível de coisas antigas ando a descobrir um disco muito bom dos Fleetwood Mac, o “Tusk”.
O disco foi gravado em Caminha, misturado no Porto e masterizado em Los Angeles. Que importância teve o dedo final de Brian Lucey no som final do disco, que já meteu a varinha em nomes como Artic Monkeys, Black Keys, The Shins, Beck ou Sigur Ros?
O nome de Brian Lucey veio à baila quando terminámos as misturas. Achámos que a masterização devia dar atenção ao músculo que este disco tinha. Tem um som um pouco mais cru e duro do que os meus outros discos, com uma forte primazia da secção rítmica. Pareceu-nos uma escolha acertada.
Como é que um disco assim acaba por ser lançado em edição de autor?
Presumo que esta questão traga um elogio implícito… A verdade é que muitas questões semelhantes a esta podem ser colocadas. Também me pergunto muitas vezes o porquê de certas portas insistirem em não se abrir. Mas se há algo que a maturidade que penso ter alcançado com este disco me diz muito clarament, é que se algo correr mal com estas canções, não será de certeza por culpa própria. Algo não está definitivamente a funcionar direito na “indústria” musical. O mundo precisa de se resolver quanto à corrupção massiva, e a música também não escapa a isso.
Quando será o concerto de apresentação ao público e o que – e quem – poderemos esperar em palco?
O concerto de apresentação no Porto está marcado para 21 de Maio, no Passos Manuel. Em Lisboa será a 23 de Junho, no Sabotage. Tenho uma banda inteiramente renovada, não só com grandes músicos mas com os músicos certos. Ide ver!
Para quando um disco totalmente focado nos fenómenos e manhas meteorológicas?
Boa questão! De certeza que daria um óptimo disco conceptual.
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