Em fuga no pelotão da frente da música moderna portuguesa estão os contagiantes PISTA. A banda do Barreiro apresenta hoje no Music Box – e amanhã no portuense Maus Hábitos – o seu primeiro álbum “Bamboleio” (ler crítica aqui), considerado por muito boa gente um dos discos nacionais do ano. Fomos tentar perceber, afinal, o que é isto do “Pedalcore”. Entrevista com Bruno Afonso (BA), Cláudio Fernandes (CF) e Ernesto Vitali (EV).
Afinal que história é esta das bicicletas? Vocês são ciclistas, os três?
CF: Eu já fui, agora estou mais dedicado a outra modalidade radical, o walking. Agora a sério, no início, quando era apenas eu e o Bruno, vivíamos muito a cena das bicicletas e, por coincidência, a música que fazíamos incitava muito o movimento, a velocidade. Por isso, entre outras coisas, assumimos ali o gimmick das bicicletas e da cena visual associada.
O centro da vossa música são as guitarras, a voz é um elemento mais escasso. Porquê esta opção pelo instrumental?
BA: Inicialmente, por conveniência. Sentíamo-nos mais à vontade para compor melodias “vocais” com guitarra e bateria, por isso acabámos por deixar a voz para segundo plano. Ao preparar o disco, ponderámos introduzir vozes em quase todos os temas, mas também não fazia sentido fazê-lo só porque sim. Mas é algo que está a mudar, neste momento estamos a compor novos temas já a pensar em voz.
Já vos chamaram alguns nomes estranhos, como Afro-Punk, Pedalcore e Rock Tropical. Como é que vocês se definem? Ou não estão para isso?
EV: É complicado enfiar tudo o que temos vindo a fazer num só rótulo, porque na verdade existem tantas nuances na música. Há sim canções que pertencem mais ao mundo do Afro-Punk, outras que são claramente Rock Tropical e ainda uma ou outra que poderá ser apenas Música-Mais-ou-Menos-Popular-com-Trejeitos-Africanos. É uma grande mistura e surge de forma espontânea, não pensamos especificamente em fazer algo mais estilo-X ou estilo-Y, pensamos simplesmente em servir a canção e a melodia que estamos a trabalhar na altura, com aquilo que considerarmos adequado.
Têm referido um extenso rol de amigos: Nick Suave, Jibóia, Fast Eddie Nelson, Benjamim… Quais são as vossas referências na música, para além destes amigos?
BA: Tudo o que meta a anca a trabalhar, basicamente. E não só, tudo o que seja melódico, simples e, noutras alturas, também dissonante e complexo. Ouvimos muita coisa, e coisas muito díspares. É mesmo complicado estar a dar exemplos, porque muitos iriam certamente ficar de fora. É uma lista bem extensa, acreditem.
Como foi trabalhar com o Benjamim? Já se conheciam?
CF: Eu já o conhecia há muito tempo e, embora nunca tivéssemos trabalhado juntos, não havia qualquer dúvida de que seria a pessoa certa para fazer este disco soar ao que pretendíamos na altura. E não nos enganámos, correu às mil maravilhas, gravámos o disco durante cinco/seis dias na melhor localização possível, Alvito, uma zona muito especial. Para além disto tudo, o Luís sabe o que faz, guiou-nos muito bem no processo de gravação e aprendemos muito com ele.
Depois de “Puxa”, lançaram recentemente o teledisco de “Sal Mão”. As filmagens foram mesmo tão divertidas como parecem?
BA: Foram mesmo. Se bem que tínhamos pouco tempo para o fazer, e havia alguma pressão para sermos rápidos e eficientes. Mas o ambiente que pairava no ar rapidamente abafou essa pressão. Queríamos captar uma festa, e acho que fomos bem-sucedidos.
A última música do disco – “Queráute” – tem recebido alguma atenção por parte da rádio Radar, por exemplo. Vocês assumem-na como inspirada pelo Krautrock. São fãs do género? Neu! e Can são bandas de cabeceira?
CF: Também são, mas não só. Queríamos fazer uma canção com bases na essência rítmica do Krautrock, mas com materiais melódicos mais “nossos”, até porque não somos propriamente especialistas no género.
E o resultado é simplesmente Krautrock (ou Queráuterock) feito por tipos que têm uma interpretação diferente disso. Daí o aportuguesamento do nome, porque não pretendíamos fazer algo realmente fiel ao género.
O que podemos esperar dos concertos de apresentação de Sexta e Sábado?
EV: Ambos serão para nós grandes celebrações, ter o disco cá fora e poder partilhá-lo com todos os que nos ouvem deixa-nos de coração cheio. A diferença entre os dois concertos está no facto de na Sexta termos uma selecção especial de amigos que vão encher o palco e nos vão ajudar a tocar o disco de uma forma que será única. Gostaríamos de repetir a façanha no Sábado, mas era muito complicado. Talvez mais tarde. Assim, no Sábado, toda a energia e responsabilidade está centrada em nós os três e prometemos fazer a festa. Serão, por isso, duas festas de arromba, assim o esperamos.
Concertos em catadupa, e agora “Bamboleio”, o álbum novo – o que é que se segue para os PISTA?
EV: Tocar ainda mais ao vivo, compor e gravar um disco novo, colaborar com outros artistas neste processo todo. Dizem que o segundo disco é o mais complicado, devido a toda a expectativa que se cria, mas parece-nos que se passa exactamente o contrário. Há tanto por explorar, tanto por descobrir. E isso é fantástico.
Fotos: Vera Marmelo.
Sem Comentários