Joshua Tillman era um artista sisudo, quando começou a fazer música em 2003. De semblante carregado, lançou sete discos a solo como J Tillman, sob a influência de figuras tutelares como Nick Drake, Pete Seeger ou Gram Parssons.
Receita dessa fase: dor de corno em lume brando salteada com as falhas da condição humana. Tillman encarnava o arquétipo do cantautor folk, compondo música pastoral e soturna. Em paralelo à carreira a solo, foi baterista da banda Fleet Foxes, de 2008 a 2012, gravando com eles o disco “Helplessness Blues”.
Chegado a 2012, embateu num impasse criativo. Os seus discos a solo, ainda que catárticos quanto baste, tinham-se tornado ecos dos mesmos sentimentos e fórmulas – o proverbial vira o disco e toca o mesmo. Chegou então à conclusão de que, para sobreviver criativamente, um artista deve estar sempre em movimento – ele estava imóvel.
Deixou os Fleet Foxes e, impulsionado pelo consumo de certos cogumelos pouco adequados a bifinhos, decidiu reinventar-se, trocando Seattle por Los Angeles e criando a persona Father John Misty.
O primeiro álbum como Father John Misty, “Fear Fun”, foi editado com o selo da Sub Pop em 2012, conseguindo a proeza inesperada de ser apontado como um dos discos do ano. Tornou claro desde o primeiro tema, “Funtimes in Babylon”, que talento musical não faltava a este falso profeta: o disco junta animados ritmos Country-Rock, arranjos de cordas luminosos e uma encantadora vibração retro.
Como Father John Misty, Joshua passou a escrever como pensa, sem filtros. A nova identidade, propositadamente ridícula, trouxe à sua música mais humor negro e ironia – e, também, um inesperado sucesso. Com esta máscara, tornou-se mais autêntico, abraçando todas estas dualidades: paixão e desilusão, autenticidade e farsa, honestidade e artifício.
O segundo álbum, “I Love You Honeybear”, de 2015, traria ainda mais surpresas. Tillman apaixonou-se e casou, e as 11 canções do disco são essencialmente cartas de amor à nova esposa Emma Garr. Mas o lado mais feio das relações não ficou esquecido: as letras continuam mordazes, com referências a trapalhadas épicas (“Ideal Husband”) ou desventuras com mulheres e drogas (“The Night Josh Tillman Came To Our Apartment”), tudo embalado pela sua seca voz de tenor.
Musicalmente Tillman expandiu os seus recursos, que vão desde a pop tingida com electrónica de “True Affection” até aos trompetes mariachi de “Chateau Lobby #4 (In C For Two Virgins)”.
Distinguir Josh Tillman de Father John Misty é um exercício complicado e inútil, ou tão difícil como separar as declarações de amor das tiradas cáusticas nas suas letras. Mas, por mais que a sua música funcione por camadas de ironia, por detrás daquela barba bíblica há um homem capaz de compor grandes canções.
Estamos todos convidados para o baile de máscaras de Father John Misty no NOS Alive: 8 de Julho, palco Heineken.
NOS Alive 2016
7, 8 e 9 de Julho
Passeio Marítimo de Algés, Lisboa
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