Vamos supor que pegamos num disco antigo dos Cocteau Twins ou dos Dead Can Dance, encharcado com delays, camadas de guitarra e vozes etéreas, e começamos a escavar – com um escopro musical, vamos tirando camadas e efeitos supérfluos, descarnando o som a pouco e pouco. Aquilo que encontramos por baixo são melodias angulares, ritmos com arestas bem marcadas, um baixo expressivo e vozes melódicas e cristalinas – é esse o som das Warpaint.
O quarteto de Los Angeles começou a dar nas vistas em 2008, com o primeiro EP intitulado “Exquisite Corpse”, produzido pelo ex-guitarrista dos Red Hot Chilli Peppers, John Frusciante. Seguiu-se o primeiro LP, “The Fool”, editado em 2010. As influências saltavam à vista: linhas de baixo roubadas aos Cure, batidas afiadas e guitarras que não destoariam num disco dos Smiths, em conjunto com as vozes etéreas e atmosféricas das duas vocalistas/guitarristas.
Em 2013 a Calvin Klein escolheu o tema “Love is to die” como banda sonora de um anúncio, o que ajudou a banda a ganhar exposição. O segundo álbum, “Warpaint”, aterrou no início de 2014, com dois nomes sonantes aos comandos da produção: Flood e Nigel Godrich.
Os produtores afinaram a receita e o resultado foi um disco intoxicante, mais saturado e suculento. Os temas são tensos, pressurizados – veja-se por exemplo a imponente “Disco//very”, ou a atmosférica “Hi”, onde as vozes pairam sobre a música como espectros curiosos. Diminuíram as guitarras em cascata, à Johnny Marr, substituídas por sons electrónicos trip-hop – sintetizadores, caixas de ritmos, bips e bops variados.
A banda fez-se à estrada para promover o disco, durante ano e meio, e a longa e intensa digressão quase levou à separação. Porém, em vez de atirarem a toalha ao chão, as Warpaint decidiram fazer uma pausa para trabalhar em projectos pessoais.
No início de 2016, a banda reuniu-se novamente e gravou o seu terceiro álbum numa questão de meses. “Heads Up” trouxe nova vida às Warpaint, que surgiram rejuvenescidas e coesas. O primeiro single “New Song” alargou o raio de acção para as pistas de dança: é uma eufórica pérola pop, a merecer o botão de repeat.
O motor da banda é a secção rítmica sólida e magnética, constituída pela baixista Jennylee e pela fantástica baterista Stella Mozgawa. Mozgawa tornou-se um dos nomes mais reconhecíveis das Warpaint e uma das mais versáteis bateristas actuais: já trabalhou com meio mundo, desde Kurt Vile a Regina Spektor, passando pelos The XX e Kim Gordon. Surge na melhor forma em “Heads Up”, tecendo malhas de bateria, batidas electrónicas, beats de hip-hop e cavalgadas glam-rock sempre com confiança e personalidade.
“Heads Up” representa uma evolução para as Warpaint: arranjos inventivos, inteligentes e imprevisíveis parecem apontar uma nova direcção: deixam para trás as paisagens gélidas do indie em favor de uma sonoridade mais infectada pelo hip-hop e pela música de dança, patente em temas como “So Good”, “New Song” e “Dre”.
Ao vivo, as Warpaint costumam transmitir uma energia singular e vibrante, o que poderemos comprovar em breve: este verão actuam no NOS Alive, no dia 7 de Julho.
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