Temos de ser justos e peremptórios a respeito do mérito obtido pelos Elbow por estarem há cerca de vinte anos em actividade no Reino Unido, sempre na linha da frente da musica que se faz dentro da Ilha e conjugando esse factor com a admiração que conseguem ter em vários pontos do velho continente, reconhecimento esse que se prolonga pelas áridas terras norte-americanas.
A unanimidade é uma coisa rara que se consegue com o tempo. A questão é que, na verdade, os Elbow nunca se conseguiram afirmar em continente europeu, ao contrário de compatriotas como os Blur ou os Oasis ou, nos últimos anos, os Muse ou os Coldplay, ficando quase no mesmo patamar que uns Portishead ou uns Manic Street Preachers – ou seja, uma banda de culto para um nicho que diverge do geral para se focar no particular.
À frente da banda segue Guy Garvey, o vocalista e alma dos Elbow, um homem altamente apaixonado com um coração que suporta uma devoção incondicional ao amor e uma sensibilidade digna de um dos compositores mais conceituados do panorama musical britânico. “You’re my reason to breathing”, repete amiúde em “Trust the sun”, uma das melhores faixas de “Little Fictions” (Concord, 2017).
O seu timbre vocal, que se mantém imaculado, é coerente com o que ouvimos no primeiro disco em 2001, aquela voz paternal, que acalma e reconforta, que entra nas canções no momento certo, ombreando com a percussão que se repete amiúde entre as cordas e o som de piano que é uma constante a cada faixa.
“Little Fictions” é editado numa fase complexa da vida de qualquer cidadão consciente. No meio do Brexit e da surpreendente eleição de Trump, Garvey e os seus parceiros não menosprezam a pertinência dos acontecimentos e enviam mensagens de espanto e desespero, um SOS para quem os ouve: “Hands up if you have never seen the sea / Im from a land with an island status / Makes us think that everyone hates us”, versos de “K2”.
Elbow, um fármaco que não nos causa fadiga há quase 20 anos, onde a devoção se centra nos registos que lançaram em 2001 e 2003, pontos máximos da melancolia doce e morna que os torna absolutamente singulares. “Little Fictions”, a sétima peça do registo discográfico, não deixa de ser mais uma etapa na linha de montagem, e dificilmente será por este disco que a base de fãs e o culto em torno dos mesmos, pelo menos por cá, irá sofrer uma mutação considerável – até porque a fórmula básica para construir canções não foi drasticamente alterada.
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