O Verão ainda está longe, mas os Jardins do Marquês já começam a florir com as primeiras confirmações do Festival Jardins do Marquês – Oeiras Valley, que em 2025 irá decorrer entre os dias 28 de Junho e 9 Julho. Cat Power Sings Dylan ’66, Gisela João, José González e Mayra Andrade juntam-se a um cartaz onde estavam já anunciados Mario Biondi, Herman & Quarteto, Paralamas do Sucesso e Detonautas. Ficam as apresentações.
29 Junho
Cat Power Sings Dylan ’66 + Gisela João
Em Novembro de 2022, Cat Power subiu ao palco do icónico Royal Albert Hall para reinterpretar, canção por canção, um dos concertos mais transformadores da história da música. A apresentação original ocorreu em maio de 1966 no Manchester Free Trade Hall, mas ficou conhecida como o “Concerto do Royal Albert Hall”. Esse evento marcou a controversa transição de Bob Dylan do acústico para o eléctrico, provocando a ira de puristas do folk e mudando para sempre os rumos do rock. Nesta recriação, Cat Power imprimiu às canções uma mistura de intensidade e delicadeza, substituindo uma certa tensão anárquica do show original por uma alegria calorosa e luminosa. O concerto foi transformado no álbum ao vivo, “Cat Power Sings Dylan: The 1966 Royal Albert Hall Concert”. Neste registo, Cat Power presta homenagem ao legado de Dylan enquanto revitaliza algumas das suas canções mais emblemáticas. O espectáculo seguiu o formato original: a primeira metade foi acústica e a segunda eléctrica, com o apoio de uma banda à altura do desafio. A cantora, que desde pequena tem uma ligação profunda às músicas de Dylan, optou por não ensaiar as partes vocais, confiando que a essência da música está no momento. Entre os destaques estão versões profundamente emocionais de clássicos como “She Belongs To Me”, “Just Like a Woman” e “Mr. Tambourine Man”. Na parte eléctrica, a intensidade cresceu até atingir o seu ápice com “Ballad of a Thin Man”, em que Marshall transformou o tom sarcástico de Dylan em algo mais emocional, mas igualmente poderoso. No final, com “Like a Rolling Stone”, a artista trouxe compaixão e energia para encerrar o espectáculo em grande estilo. Cat Power mostrou o poder da interpretação ao oferecer novas dimensões às canções de Dylan, numa performance que foi, ao mesmo tempo, uma homenagem e um acto de devoção a um artista que moldou gerações.
“A Morte Saiu à Rua” é o primeiro single do novo álbum de Gisela João, que será editado em Janeiro de 2025. Neste single, Gisela João reimagina e reinterpreta a icónica canção de Zeca Afonso, de 1972. A sua voz, forte e feminina, dá nova vida a esta peça de resistência, acrescentando profundidade e criando uma mistura inesquecível entre tradição e contemporaneidade, afirmando um Portugal vivo e democrático. A revolução não se esgota num momento específico da história e a ligação de Gisela João a este imaginário continua, após o espectáculo inédito que marcou as celebrações dos 50 Anos do 25 de Abril e da democracia em Portugal, ao longo deste ano. A luta pela liberdade continua a ser diária e Gisela João acredita que só existe como pessoa e pode expressar-se através da sua voz, precisamente porque a liberdade existe e é defendida e celebrada diariamente. O projecto reflecte um desejo antigo da artista de homenagear autores que sempre admirou — e sempre cantou —, bem como de celebrar e lembrar a importância da liberdade. Liberdade essa tão incontornável que, no entender de Gisela João, não pode ficar apenas pelos palcos e deve ser eternizada através da edição de um disco, perpetuando assim a memória colectiva através de canções que tornou suas. Encarando o fado como uma expressão de resistência romântica, Gisela João consegue capturar a sua riqueza histórica e profundidade emocional, elevando-o para além da tristeza. Assim, torna-se numa genuína tradução da vida. Numa poderosa fusão entre um certo tom fadista e elementos electrónicos, o primeiro single aumentou ainda mais as expectativas para o resto do disco.
30 Junho
José González + Mayra Andrade
José González é um dos artistas mais celebrados da música contemporânea, conhecido por um estilo que combina os seus delicados dedilhados na guitarra clássica espanhola, melodias hipnóticas e letras profundamente reflexivas. Nascido em Gotemburgo, Suécia, filho de pais argentinos, José traz para sua música influências que vão do folk tradicional à música latina, criando uma sonoridade minimalista e emocional capaz de comover uma legião de fãs dedicados. Com mais de duas décadas de carreira, José já atingiu biliões streams, discos de platina no Reino Unido e na Suécia, além de ouro na Austrália e Nova Zelândia. Além destes marcos e números, também já actuou em palcos como o Royal Albert Hall, em Londres, e teve as suas músicas incluídas em bandas sonoras tão memoráveis como “The Secret Life of Walter Mitty” e “The Last Dance”. Discos como “Veneer” (2003), “In Our Nature” (2007) e “Vestiges & Claws” (2015) mostram toda a sua qualidade. O mais recente, “Local Valley” (2021), reflecte toda a sua maturidade artística e pessoal, explorando temas mais filosóficos, dando música à nossa busca por significado no meio do universo. Pela primeira vez José González canta em inglês, espanhol e sueco, conectando-se ainda mais com as suas raízes e ampliando o alcance das mensagens que quer transmitir. Temas como “El Invento” e “Visions” combinam um lirismo existencial com uma sonoridade intimista. Por outro lado, canções como “Swing” e “Tjomme” revelam como o músico não vive alheado da realidade, olhando criticamente para as questões mais sociais e culturais.
Mayra Andrade não é apenas um tesouro da música cabo-verdiana, é também um tesouro da música de todo o mundo, exemplo de uma expressão artística que faz daquilo que é local a matéria da sua projecção. Mayra nasceu em Cuba, mas cresceu entre o Senegal, Angola, Alemanha e, claro, Cabo Verde, e isso talvez ajude a explicar o facto de encontrarmos várias músicas dentro da música da cantora. E só assim se consegue entender verdadeiramente a história da Mayra, a partir deste mundo onde tudo se faz próximo: em 2001 venceu os Jogos da Francofonia, em Ottawa, Canadá, com uma canção em crioulo cabo-verdiano, em 2002 começa a apresentar-se na Praia e no Mindelo em Cabo Verde, em 2004 actua num dos mais conhecidos bares de world music, o Satellit Café, em Paris, em 2016 muda-se para Portugal e, ao longo destes anos, colabora com nomes da música de todo o mundo: Cesária Évora, Chico Buarque, Caetano Veloso, Charles Aznavour, Mariza, Pedro Moutinho, entre muitos outros. E esse abraço ao mundo também fica evidente quando ouvimos os seus discos, desde a estreia “Navega”, até “Manga”, editado em 2019. Após cinco discos, Mayra Andrade optou por retornar à essência do seu processo criativo, o mais íntimo. Em “reEncanTO”, acompanhada pelo guitarrista Djodje Almeida, a vocalista e compositora revisita o seu repertório nos termos mais simples: só voz e guitarra, base da música cabo-verdiana. Assim, “reEncanto” consagra a simbiose de uma dupla para uma experiência real com o seu público, num momento de partilha e de grande emoção.
6 Julho
Mario Biondi + Herman & Quarteto
Mario Biondi é um célebre intérprete italiano, reconhecido pela sua voz barítona profunda, suave e levemente rouca, cheia de intensidade e emoção em interpretações de soul, R&B e jazz. Influenciado por lendas como Lou Rawls, Al Jarreau e Isaac Hayes, desenvolveu um estilo único que mistura essas referências com um toque contemporâneo. Nascido em Catania, na Sicília, numa família artística, Biondi começou a cantar em público aos 12 anos. Durante a juventude, actuou como cantor de estúdio e em 1988 teve a oportunidade de dividir o palco com Ray Charles. O seu grande destaque internacional veio em 2004, com o single jazz-pop “This Is What You Are”, gravado com o High Five Quintet, que rapidamente se tornou um sucesso global e um hino das pistas de dança. Em 2006, lançou o álbum “Handful of Soul”, que consolidou o seu sucesso e o levou ao reconhecimento internacional. Seguiram-se trabalhos de destaque como “If” (2009), que foi três vezes platina na Itália, e “Sun” (2013), que alcançou os lugares cimeiros dos tops e contou com colaborações de artistas como Chaka Khan, Leon Ware e Al Jarreau. A sua paixão pela música brasileira culminou no álbum “Brasil” (2018), um tributo à sonoridade do país, com participações de Ivan Lins, Ana Carolina e Daniel Jobim. Ao longo de mais de 20 anos de carreira, Mario Biondi tem encantado públicos em todo o mundo, explorando diferentes tradições musicais e consolidando-se como uma das vozes mais marcantes da música internacional.
Herman José ocupa um lugar singular no panorama artístico nacional. A sua arte é a fusão perfeita entre várias expressões: escrita humorística, composição musical, interpretação multifacetada e a mestria como contador de histórias. Esta combinação explosiva permite-lhe cativar públicos de todos os estratos sócio-culturais e brilhar em qualquer palco, dos mais populares aos mais eruditos. Ao longo da sua carreira, foi distinguido com importantes honrarias, como o título de Comendador da Ordem de Mérito Cultural, em 1992, pelo Presidente Mário Soares, e o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, em 2023, pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Com uma trajectória profícua e amplamente reconhecida pelos portugueses, Herman continua a encantar gerações com a sua genialidade, humor e talento intemporais. Os seus espectáculos são como impressões digitais: nunca há dois iguais! Com um ritmo alucinante, o artista revisita personagens icónicas que marcaram os seus mais de 50 anos de carreira artística, como Feliz & Contente, Serafim Saudade, Tony Silva, Maximiana, José Esteves e Nelo. Entre muitas histórias hilariantes, Herman envolve o público numa experiência recheada de música, onde não faltam os seus grandes sucessos, desde “Saca o Saca Rolhas” à “Canção do Beijinho”, passando pela marcha “Vamos Lá Cambada” e o seu hino à folia “És tão boa, És tão boa”. Uma viagem única de humor e música que só Herman sabe proporcionar, mostrando-se sempre no seu melhor.
9 Julho
Paralamas do Sucesso + Detonautas
Os Paralamas do Sucesso, hoje formados por Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone, são uma das bandas mais icónicas da música brasileira, reflectindo o espírito da sua geração ao longo de quatro décadas. Deram os primeiros passos ainda nos anos 80, como parte da revolução do então rock brasileiro, e cedo se destacaram pela combinação das influências do rock anglo-americano com elementos latinos e brasileiros, criando um estilo único. Inicialmente ficaram conhecidos com hits como “Vital e Sua Moto” e com discos tão marcantes como “Cinema Mudo”, “O Passo do Lui” e “Selvagem?” que, neste último caso, misturou rock com reggae e sonoridades caribenhas. A banda internacionalizou-se com concertos um pouco por toda a pela América Latina, mas também pelos Estados Unidos e Europa, incluindo uma apresentação marcante no Festival de Montreux. Além disso, inovaram musicalmente com o uso de metais em “Bora-Bora” ou experimentações electrónicas em discos como “Os Grãos” ou “Severino”. Os Paralamas procuraram sempre reinventar-se ao longo da carreira e foi isso mesmo que aconteceu com o álbum “Longo Caminho”, demonstrando resiliência e reafirmando a sua inesgotável força criativa. Recentemente, a banda celebrou os seus 30 e 40 anos de carreira com tours e projectos especiais, como o álbum “Sinais do Sim”, que trouxe mensagens de empatia, além de mais uma renovação musical. Entre os destaques mais recentes está o concerto no Lollapalooza 2023, considerado um dos melhores do festival. Com uma energia renovada, os Paralamas seguem activos e relevantes, consolidando o seu legado de inovação e de ligação profunda ao público, influenciando várias gerações de melómanos.
Os Detonautas são uma das bandas mais marcantes do rock brasileiro dos últimos 20 anos. O grupo conquistou destaque nos anos 2000, unindo rock e pop com letras que abordam tanto críticas sociais como temas introspectivos. A banda começou de forma inusitada: os seus membros conheceram-se em salas de chat na internet. Essa origem inspirou mesmo o nome “Detonautas”, uma fusão de “detonadores” e “internautas”. Após os primeiros encontros virtuais, os músicos passaram a encontrar-se para compor e tocar em eventos no Rio de Janeiro. O disco de estreia, “Detonautas Roque Clube” (2002), trouxe sucessos como “Outro Lugar” e “Quando o Sol Se For”. Em 2004, o segundo disco “Roque Marciano” consolidou o sucesso do grupo com hits como “Olhos Certos” e “O Dia Que Não Terminou”. O passo seguinte, “Psicodeliamorsexo&distorção” (2006), apresentou uma sonoridade mais experimental e letras reflexivas, marcando o início de uma postura mais politizada da banda. Álbuns como “O Retorno de Saturno” (2008) exploraram temas como desigualdade, violência e corrupção, reafirmando a consciência social da banda. Discos mais recentes como “Viemos em Paz” (2014) e “Álbum Laranja” (2017) voltaram a confirmar a banda como uma das mais importantes do rock brasileiro. O grupo é reconhecido pela sua autenticidade, pela proximidade com os fãs e pelo impacto cultural. Nas palavras de Tico Santta Cruz, vocalista do Detonautas: “Esse retorno a Portugal num grande festival como o de Oeiras, é a oportunidade que o Detonautas tem de mostrar toda sua potência, seus Hits, sua intensidade para milhares de pessoas e consagrar de vez nossa relação com o País e com os Portugueses e todos os demais cidadãos de língua portuguesa. Vamos entrar nesse palco como se estivéssemos na final da Champions League.”
Promotora: Música no Coração
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