Gestos ponderados. Alisamos o ar, talvez. Remetemos os objectos para o lugar do imutável. Ansiamos fixar o presente. Ardemos, ardemos na vontade de descansar de nós. Vontade em Cair Para Dentro, como no último livro do Valério Romão. Que a queda seja no mínimo melodiosa, se possível amparada. Afastar-nos da homogeneização, da banalidade do hiperbólico que tudo caracteriza como incrível, extraordinário, único. Fugir de uma vez por todas da hiper-adjectivação, da categorização de cada concerto como uma viagem.
Talvez já chegue de viajar. Os ricos em veleiro, os remediados em cruzeiro e os miseráveis na net. E se a vontade for só amarrar aquele lugar onde possamos cair suavemente e não sair mais de lá? Ficar. Ficar com os cotovelos cravados nos braços da cadeira, ser o melhor amigo do silêncio e especado ouvir os pianos de Federico Albanese e Peter Broderick.
É a proposta da Uguru inserida no Classic waves – 1º Ciclo de Música Clássica Moderna, para amanhã, no Teatro Tivoli. Talvez baste só isso – ser mirone, recostar e ouvir. Podemos nunca vir a saber parar o tempo, mas amanhã à noite será momento para cair, para cair no nós e aí permanecermos por umas horas.
PETER BRODERICK | FEDERICO ALBANESE
24 de Maio 2018 | Teatro Tivoli
Promoção | Uguru
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