Nos últimos tempos temos tido a sorte de poder ver Caetano Veloso em Portugal mais vezes do que seria de esperar, e sempre em registos diferentes. Depois de ter estado em 2014 no Primavera Sound, em “modo banda completa,” para nos lembrar que “a bossa nova é foda“, regressou no ano seguinte para encerrar o Cool Jazz ao lado de Gilberto Gil. Agora, em plenas comemorações de Abril, Caetano voltou ao nosso país para uma data dupla (25 e 26 de Abril) no Coliseu do Porto, acompanhado apenas pelo violão e, como o próprio fez questão de explicar, com um repertório que procurou não repetir o da digressão com Gilberto.
No fundo, Caetano não necessita de muito mais para nos conquistar. Com o palco despido, apenas com um jogo de luz extremamente simples, bastou a Caetano sentar-se, pegar no violão e desatar a cantar “Luz do sol” para nos agarrar logo ao primeiro tema. Aliás, não fossem as pessoas teimar em passar mais tempo com os telemóveis ao alto do que desligados, a tirar fotos com flash e a terem outros comportamentos irresponsáveis e igualmente irritantes, e pareceria que estávamos na sala de estar a ouvi-lo, ali mesmo ao nosso lado, no sofá, como se não fosse nada com ele.
Só isso lhe dá legitimidade para despachar, logo ao quinto tema, “O Leãozinho” e “Menino do Rio” de enfiada, provavelmente dois dos seus temas mais reconhecíveis (e que até sofrem de alguma sobre-exposição). Aliás, só mais perto do final, com “Sozinho” – cantado quase em uníssono com o público – é que houve um momento de maior frisson junto do público, que encheu o Coliseu do Porto duas noites consecutivas. Mas o momento alto foi mesmo “Cucurrucucu paloma”, aquele tema que é o momento alto de qualquer situação em que seja tocado.
Depois de cantar à capela “Love for sale”, Caetano prestou tributo à música norte-americana, reconhecendo o muito que lhe devemos e dando como prova o Nobel da Literatura recentemente atribuído a Bob Dylan. Logo a seguir viajava ao início de tudo, com o Tropicalismo, recuperando dois temas pouco lembrados do seu disco de estreia, o homónimo de 1968. A actuação acabaria em festa, com “A luz de Tieta”, com o refrão a ressoar no público enquanto Caetano se passeava pela boca do palco.
O brasileiro ainda voltaria, não para um mas para dois encores. Consigo trouxe, primeiro, Teresa Cristina – que fizera uma primeira parte competente, mas sem deslumbrar – e, depois, Carlinhos Sete Cordas, um virtuoso do violão. Foi em formato trio que se passearam pelo samba, com Teresa Cristina a trocar o final de “Tigresa” – aquele “que bom é tocar um instrumento“, por um “que bom é cantar com Caetano Veloso“. Que bom é ouvir Caetano Veloso, emendamos nós no final desta prosa.
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