Agora que passou uma semana e um dia sobre a passagem dos Black Mountain pelo alfacinha Musicbox, e tendo a audição recuperado parte daquilo que ficou escangalhado, chegou o momento de dedicar umas parcas linhas à actuação da banda canadiana que, finalmente, se estreou em Portugal e logo em dose tripla: primeiro os Açores, depois o Porto e, para terminar, Lisboa.
Uma das grandes qualidades da música dos Black Mountain tem a ver com as alternâncias entre o poder e o delírios dos riifs incendiários e a quase hipnose das vozes, que surgem como a bonança entre as muitas tempestades. No concerto do Musicbox, infelizmente, o lado vocal ficou para lá do delírio instrumental, com um orgão que convocava os fiéis, um baixo que mantinha a pulsação estável, uma bateria que marcava o passo e uma guitarra que não precisou nunca de licença para riffar.
Apesar de um começo dedicado a “IV”, o novíssimo longa-duração da banda – com os temas “Mothers of the Sun” e “Florian Saucer Attack” servidos como entrada -, o concerto fez-se de uma celebração dos grandes temas que compõem a discografia da banda, como “Tyrants”, “Stormy High” ou “Druganaut”.
Quem foi à espera de sentir o poder da electricidade, provavelmente saiu de lá feliz da vida, com o cabelo chamuscado e o corpo em delirium tremens. Para aqueles que, ao choque eléctrico, queriam juntar alguma melancolia, isso terá de ficar para uma próxima visita. Não foi mau, mas o sentimento que ficou foi o de se ter preparado o equipamento e o corpinho para escalar o Evereste e, no final, acabar com uma subida à Torre da Serra da Estrela.
Fotos: Alípio Padilha.
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