Bastam alguns segundos de “Levitation”, a primeira faixa do novo disco dos Beach House – “Depression Cherry” (Sub Pop, 2015) -, para reconhecermos a assinatura sonora deste duo de Baltimore: teclados vintage distorcidos e robóticos, a voz melancólica e andrógina de Victoria Legrand, uma caixa de ritmos em câmara lenta e a guitarra eléctrica planante de Alex Scally a completar o embrulho. Foi com estas ferramentas que os Beach House construíram uma carreira de inesperado sucesso, desde o seu álbum homónimo de 2006.
A sua música etérea, cheia de texturas e atmosferas, é vulgarmente apelidada de Dream Pop, influenciada pelo som de bandas como os This Mortal Coil, os Cocteau Twins ou os Mazzy Star. Depois do sucesso comercial e crítico dos seus dois trabalhos anteriores (“Teen Dream” (2010), e “Bloom” (2012)), os Beach House afirmam que procuraram com este disco um regresso à simplicidade dos seus primeiros tempos.
O projecto Beach House nunca foi sobre passar uma mensagem específica, antes de partilhar um certo estado de espírito melancólico. Legrand canta, sobretudo, sobre amor e perda, e esse tom soturno sempre fez parte da identidade da banda. Em “Space Song”, por exemplo, Legrand sopra-nos ao ouvido “Tender is the night / For a broken heart / Who will dry your eyes?”, transportando-nos para um filme desconhecido de David Lynch com ecos de Julee Cruise.
Onde “Bloom”, o álbum anterior, se aproximava de uma sonoridade mais amiga das grandes arenas, patente por exemplo em “Myth” ou “Lazuli”, este disco parece de alguma forma regredir: a voz de Victoria Legrand recua para trás da muralha de sintetizadores e guitarras de Scally, e é tratada muitas vezes como apenas mais um instrumento.
É fácil perdermo-nos neste disco: as músicas colam-se umas às outras, sem os “ganchos” sonoros que abundavam nos trabalhos anteriores. Falta aqui uma certa sensibilidade pop, o que faz com que por vezes o disco soe a “mais do mesmo”, roçando a monotonia em alguns pontos.
Não quer dizer que não hajam alguns momentos inspirados, como o atípico primeiro single “Sparks”, com a guitarra em estridente destaque desde o início, ou as belíssimas “Space Song” e “Beyond Love”, mas o disco parece nunca levantar voo.
Muitas das letras de Victoria Legrand falam de transição e mudança. “Depression Cherry” é um disco de uma banda a lidar com a sua própria transição, “congelada” no seu momento de sucesso, sem saber muito bem para onde ir a seguir – e, talvez por isso, criando um disco “à defesa”, que esquecemos facilmente quando libertados do seu transe.
Os Beach House regressam a Portugal em Novembro para dois concertos, pela mão da Pic-Nic:
23 Novembro | Armazém F – Lisboa
24 Novembro | Teatro Sá da Bandeira – Porto (, dia 24), pela mão da Pic-Nic.
Preço dos bilhetes: 25€
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