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Barreiro Rocks: uma espécie de best of de 19 anos incríveis

Por Pedro Soares · Em 03/07/2019

Não foi uma semana fácil para quem gosta de música em geral, do rock em particular e, em suma, de se divertir. Morreu o Dr. John, depois morreu o Serguei e, entretanto, havia sido anunciado o fim do Barreiro Rocks. Não estou a conseguir lidar com isto.

Depois de ter passado o dia a ouvir em repeat o “Gris Gris” (o “Eu Sou Psicodélico” também rodou no spotify, claro), dei por mim a ver fotografias das edições passadas do Barreiro Rocks e a chorar. Há muito que este tinha deixado de ser apenas o melhor festival de rock’n’roll da Península Ibérica, para ser também um ponto de encontro anual com amigos queridos.

Por isso, em vez de estar em sofrimento, decidi enxaguar as lágrimas e elaborar esta lista: a dos melhores concertos que passaram pela história do festival. Para isso segui apenas dois critérios específicos e muito científicos: tê-los visto e ter gostado. Recostem-se na cadeira e embarquem nesta viagem pela memory lane de 19 anos do Barreiro Rocks.

9. DIRTY COAL TRAIN (2012)

Os Dirty Coal Train são, provavelmente, a melhor banda rock’n’roll que surgiu em Portugal nos últimos tempos. E a primeira vez que os vi foi, claro, no palco do Barreiro Rocks. O ano era 2012 e tratava-se de uma edição ibérica especial, fora do habitual cenário do pavilhão dos Ferroviários. O trocadilho do nome era muito cool e eles tinham muita pinta, mas a música foi ainda melhor, num horror-rock meio Cramps, meio Gories, cheia de referências sci-fi xunga. Foi um concerto cheio de fuzz, na boa tradição garage, que incluiu versões de “Nitro Glycerene” e de “Have Love, Will Travel”. A partir daí, foi amor para todo o sempre.

8. THE DRONES (2006)

O concerto dos Drones no Barreiro Rocks, no ido ano da graça do Senhor de 2006, foi todo ele uma epopeia, que esteve para não acontecer mais vezes do que para realmente acontecer. Os australianos perderam-se a caminho do festival, andaram no meio do Samouco durante horas (o que, para eles, deve ter sido mais ou menos como estar no meio da Austrália), e obrigaram os cabeças-de-cartaz dessa noite, os Gallon Drunk, a tocarem primeiro que eles. Depois lá chegaram, mesmo em cima da hora do pessoal começar a arrumar a trouxa e… foi chegar e fazer. Poucos se lembram quem são os Drones, mas em 2006 a expectativa para os ver era razoável, tudo graças a um disco chamado “Wait Long By The River and the Bodies of Your Enemies Will Float By”. Não sei se foi da espera ou de já nos termos todos preparados para que eles não chegassem a tempo de tocar, mas o que é certo é que deram um concertaço do camandro, com um swamp-rock lamacento que tanto lembrava, por vezes, os conterrâneos Birthday Party, como noutras os sulistas Creedence.

7. LES TRIPLE (2008)

E os Les Triple, quem se lembra deles? Eram dois irmãos, rapazes pacatos da insuspeita Viana do Castelo, que lançaram um EP em edição digital e de quem temos muitas saudades. Pessoal, se estão a ler isto, por favor, gravem qualquer coisa, ok? Houve uma altura em que sempre que aparecia um duo rock os comparavam aos White Stripes – e os Flat Duo Jets riam-se. Mas os Les Triple lembravam mesmo os White Stripes. Em 2008, montaram calmamente os instrumentos no meio do público para o after-party do primeiro dia e… bum, fez-se festival logo ali. Pessoal, se lerem isto, a sério, gravem lá mais qualquer coisinha.

6. LOS SANTEROS (2008)

Se 2005 foi o melhor ano de Barreiro Rocks (ver o resto deste texto), 2008 foi o melhor ano de after parties do festival. Depois dos Les Triple, os Santeros, uma banda da casa que abrilhantou o Barreiro Rocks várias noites. No entanto, nenhuma das vezes bateu como nesse after-party de 2005. Pode ter sido também da cerveja a mais e do adiantado da noite, não o nego. Mas há aí um vídeo no youtube que me diz que não foi só isso. Com o palco montado no meio do público, os Santeros arrancam com a sua tradicional versão do “She Said”. E quando a música explode, o pavilhão explode com ela, de forma tão caótica quanto poética.

5. SONIC REVERENDS (2011)

Quando se fala do rock em Portugal fala-se pouco dos Sonic Reverends (e da sua importância) e isso é triste. É que, além de terem sido uma das melhores bandas de garage a sério que nasceu neste país à beira-mar plantado (com os melhores discos, melhores títulos, melhores edições…), deram ainda origem a coisas como os Jack Shits, os Twist Connection ou os Saguaros. Em 2011, os Sonic Reverends estreavam-se na Detroit portuguesa e foi uma espécie de furacão que varreu o pavilhão dos Ferroviários. A noite tinha acabado de começar, mas nunca mais foi a mesma (e ei, foi a mesma noite que trouxe Mark vénia Sultan). E acabou com o “Gloria”, aquele número épico que depois o Diogo Augusto e o Samuel Silva haveriam de importar também para os Jack Shits, e que incluía crowd surfing, escalar estruturas alheias ao palco, colocar instrumentos em pessoas estranhas à banda e passear pelo público. Acho que há para aí um vídeo no youtube também.

4. KID CONGO AND THE PINK MONKEY BIRDS (2009)

Uma vez entrevistei o Kid Congo e perguntei-lhe se ele tinha noção de que tinha pertencido a três das melhores bandas da história do rock e se ele conseguia dormir à noite. A resposta dele foi muito diplomática e humilde: nunca pensava nisso. Mas eu não conseguia pensar em mais nada. Estava ali a falar com o homem que fundou os Gun Club, que gravou os dois melhores discos dos Cramps e que fez parte da melhor formação dos Bad Seeds. Por isso, em 2009, Kid Congo podia ter chegado ao Barreiro, subido ao palco, acenado e ido embora, que eu tinha-o posto à mesma na quarta posição desta lista. Mas foi do cacete na mesma. Além disso, em 2009, Kid Congo tinha lançado “Dracula Boots”, que é um disco bem catita. O concerto e a envolvente foram ideias para perpetuar a mitologia. Houve ainda o “Sex Beat” no alinhamento, “I’m Cramped” em homenagem a Lux Interior e um encore demolidor com “For the Love of Ivy”. Foi o bigode à Cantiflas mais cool a passar pelo Barreiro Rocks em 19 anos.

3. KING KHAN AND THE SHRINES (2010)

Por vezes, um concerto até pode não estar a ser propriamente bom, mas algo acontece que o transporta automaticamente para outro nível de exaltação. Isso acontece amiúde no rock’n’roll, em que a atitude e o espírito com que se encara a coisa compensa muitas vezes (e largamente) alguma falta de jeito para tocar ou cantar que possam existir. No entanto, nada disso acontece com King Khan, que alia essa exaltação extra com uma componente musical impecável. Em 2010, na sua primeira passagem pelo Barreiro, ao lado dos Shrines, King Khan foi uma celebração soul-rock como um Wilson Pickett em ácidos, à frente de uma big band completa, onde não faltou a secção de metais e um teclista louco, como convém, que não sabia quais eram os limites do palco.

2. BLACK LIPS (2005)

Em 2005 ainda ninguém sabia quem eram os Black Lips. Pelo menos não da mesma forma de quando eles regressaram ao Barreiro Rocks. Em 2005 tinham em carteira o disco “We Did Not Know the Forest Spirit Made the Flowers Grow” e, pelo menos eu, não me entusiasmava assim muito com ele. Mas em palco tudo foi diferente e passou a fazer sentido. Aqueles miúdos (literalmente) pareciam os Monkees numa luta de facas, pareciam os The Who em versão delinquente, pareciam tudo isto multiplicado por mil. Apesar da juventude, demonstravam uma inesperada cultura musical, mascarada de motim psych-punk, tudo de forma muito saudável. Menos saudável foi mesmo quando, ao fim da noite (ou ao início do dia?), se puseram a ameaçar os motards do moto-clube local.

1. BILLY CHILDISH AND THE BUFF MEDWAYS (2005)

Billy Childish é uma lenda viva do rock e tê-lo visto naquela noite de 2005, num palco no Barreiro, foi tão especial quanto surreal. Aliás, esse ano de 2005 foi, de longe, o melhor de todas as edições do Barreiro Rocks, apesar de pouca gente se lembrar. Foi um ano que decorreu numa tenda de circo, que nos apresentou esses miúdos chamados Black Lips e que ainda teve os Flaming Stars, os Dt’s e os Coyote Men. E aquele concerto épico dos Act-Ups, no after-party de encerramento, que devia ter posto também nesta lista. Childish, com a sua bigodaça vitoriana e traje de colonialista inglês, deu-nos, em 2005, uma lição de 45 minutos do que foi a British Invasion dos anos 60. Foi intenso, tudo a que tínhamos direito e, se a memória não me atraiçoa, até acabou como todos os concertos rock devem acabar: com a polícia. Ou será que é a minha mente a atraiçoar-me e a querer doirar ainda mais o momento?

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Pedro Soares

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