Afirma que a sua música é apenas “indie-folk honesto”: falamos de Ailbhe Reddy, uma promissora nova voz irlandesa fazendo caminho entre o indie, o folk sentido e a pop mais orelhuda. A jovem Ailbhe começou a ganhar visibilidade com o EP “Hollowed Out Sea”, em 2016, seis canções meticulosas com base em voz e guitarra, que escreveu enquanto trabalhava como assistente administrativa.
O ano passado lançou o álbum de estreia, “Personal History” (Street Mission Records, 2020), um trabalho autobiográfico que se ouve como uma crónica de amores e desamores na época das redes sociais. O registo de cantautora solitária do primeiro EP mudou: “Personal History” tem mais som de banda, apesar da atmosfera introspectiva.
Começa sob o signo da santa trindade do indie-rock: guitarra, bateria e baixo – a música chama-se “Failing”, e é uma espécie de elegia de uma relação falhada. Curva suave para a folk de “Loyal”, onde sobressai a voz cristalina da cantora em conjunto com uma guitarra dedilhada. A partir do meio, a canção ganha um revestimento pop, que desemboca num final mais roqueiro.
O tema-título, “Personal History”, é um ponto alto – a guitarra com ecos de Nirvana assiste a um desabafo muito pessoal na sequência de uma separação. É uma das muitas vezes em que a cantora revela uma amizade entre a melancolia e um certo tom desafiador. Mas o destaque maior vai para “Walk Away”: uma balada suave, melódica, passadeira para um desfile de mágoa. É uma canção simples, mas que cresce a cada audição.
Também “Between Your Teeth” soa muito bem: é um espécime pop perfeitinho e sem nada a apontar. Há ainda “Looking Happy”, onde a cantora se martiriza com um scroll pelo perfil de um antigo amor, às voltas com uma melodia circular.
A música de Ailbhe Reddy é elegante, clarinha, apesar de surgir de vez em quando uma passada mais eléctrica ou uma distorção pontual. A espaços lembra os velhinhos Cranberries, de Dolores O’Riordan, com a mesma costela de pop orelhuda.
No entanto, as referências apontadas pela cantora em entrevistas são outras: Julia Jacklin, Fiona Apple, Jeff Buckley e os Big Thief são vistos como almas gémeas. Reddy ainda tem de comer muito nestum para chegar a esses patamares, mas este disco é um passo em frente no seu caminho.
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