Abram-se os tops. Um dos melhores álbuns de 2019 está lançado. A estreia de A Garota Não, com “Rua das Marimbas”, tem tanto de inesperado como de genial. Das canções de Zeca a universos mais “actuais”, como Damien Rice ou Márcia, a Garota, ainda muito jovem, já conseguiu criar o seu espaço e conquistar o seu público.
Uma primeira audição do single de estreia, acompanhada do videoclip repleto de mulheres que preenchem a vida de Cátia Mazari, a voz por detrás de todo o álbum, basta para que o leitor entenda o que escrevemos até agora.
O álbum fala da vida dela e da vida dos outros, “do que vejo por aí”, como esclareceu a autora na sua primeira actuação ao vivo (esgotada), no passado domingo, nos Claustros do paradisíaco Convento de São Paulo.
De desgostos amorosos à doença que lhe levou a mãe demasiado cedo, Cátia consegue falar (escrever) sobre tudo sem perder, por um segundo, a sensibilidade poética que a caracteriza.
Acompanhada por dois monstros de duas gerações diferentes – Sérgio Miendes na guitarra (Hands On Approach) e Diogo Sousa na bateria (Moullinex, quartoquarto) – temos aqui um trio de luxo, capaz de enfrentar qualquer palco. E isto é apenas o começo.
Desenganem-se aqueles que pensam tratar-se de um álbum de canções frágeis. Nele são abordados temas que nos tocam a todos, sérios e actuais. Conseguir escrever uma canção sobre precariedade com a mesma delicadeza com que se escreve sobre amor, está ao alcance de muito poucos.
Um excelente álbum de estreia, que revela uma maturidade invulgar para um primeiro trabalho, feito de talento, muita coragem e inspiração. Fez-nos chegar ao fim e voltar a ouvir tudo para descobrir, a cada audição, novas palavras carregadas de significado, ritmos perfeitos e guitarras escolhidas, a dedo, para cada tema. Mais uma prova do enorme talento que teima em ficar escondido na cidade de Setúbal.
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