• Mil Folhas
  • Música Com Cabeça
  • Cine ou Sopas
deusmelivro
Nem Todas as Árvores Morrem de Pé, Deus Me Livro, Crítica, D. Quixote, Dom Quixote, Luísa Sobral,
Mil Folhas 1

“Nem Todas as Árvores Morrem de Pé” | Luísa Sobral

Por Isabel Daires · Em 28/04/2025

São muitos e diversificados os desenhos de plantas que ilustram certos capítulos de “Nem Todas as Árvores Morrem de Pé” (Dom Quixote, 2025). Acompanhados pelo nome comum, pela designação científica e pela breve menção a uma das suas características, funcionam como uma espécie de introdução ao que vamos ler a seguir, ao mesmo tempo que reforçam a íntima relação entre o mundo vegetal e a narradora – alguém que cedo nos confessa o hábito de converter mentalmente pessoas em plantas, para conseguir relacionar-se com elas. É assim que aprendemos, por exemplo, que a tília reduz a ansiedade, ou que o tronco do castanheiro fica oco quando a árvore envelhece, e tudo isso contribui não só para caracterizar o percurso desta narradora e das personagens que a acompanham como, também, para a originalidade desta obra, na qual Luísa Sobral revela a sua voz para além da música – e é uma voz literária impressionante, belíssima, mesmo quando os acontecimentos descritos nada têm de belo.

Graças ao prefácio, sabemos desde o princípio que o enredo se baseia numa notícia real que a autora se sentiu impelida a transformar, numa primeira fase, numa canção. As interrogações que permaneciam originaram este romance, onde o prólogo revela o final da história e o restante texto reconstitui, a várias vozes, as etapas que conduziram a esse momento.

A narradora apaixonada por plantas recua tão longe quanto se lembra, às memórias do jardim maravilhoso da ama e à vida doméstica com um pai adorado e uma mãe distante. Nascida na Alemanha Oriental, dois anos após a edificação do muro de Berlim, filha de um funcionário da STASI – a polícia política, que controla toda a população –, vive satisfeita até descobrir que o pai não é “um homem bom”. “Raramente se fala nos momentos presentes que alteram o passado porque nada deveria alterar o passado. É a única segurança que temos”. E a destruição dessa segurança leva-a num périplo com paragens marcantes em Itália e em Portugal.

Nem Todas as Árvores Morrem de Pé, Deus Me Livro, Crítica, D. Quixote, Dom Quixote, Luísa Sobral,

Paralelamente, conhecemos a história de uma outra mulher, unida à primeira por um laço que não é logo evidente, mas que descortinamos ao fim de algumas dezenas de páginas. Esta é uma mulher que perdeu o pai na Segunda Guerra Mundial, e que se viu separada da mãe e da irmã pelo muro de Berlim. Uma mulher nascida na Alemanha Ocidental, que se deixa encantar pelo Leste devido a uma paixão, e cuja vida se torna penosa quando aquilo que acreditava ser “o início de um amor sem fim” dá lugar a um misto de asco e medo.

Entre mágoas e esperanças, da destruição de expectativas para o futuro a recomeços inesperados, acompanhamos vidas feridas pela história recente da Alemanha, mas que parecem desenrolar-se pertíssimo de nós, numa narrativa poderosa que nos cativa do início ao fim.

CríticaD. QuixoteDeus Me LivroDom QuixoteLuísa SobralNem Todas as Árvores Morrem de Pé

Isabel Daires

Pode Gostar de

  • Corpo Vegetal, Porto Editora, Deus Me Livro, Crítica, Julieta Monginho, Mil Folhas

    “Corpo Vegetal” | Julieta Monginho

  • A Gigantesca Pequena Coisa, Deus Me Livro, Crítica, Orfeu Negro, Beatrice Alemagna, Mil Folhas

    “A Gigantesca Pequena Coisa” | Beatrice Alemagna

  • Julian Barnes, Feira do Livro de Lisboa, Feira do Livro de Lisboa 2025, Deus Me Livro, Quetzal, Mil Folhas

    Julian Barnes vem a Lisboa para nos fazer mudar de ideias

1 Commentário

  • José Luís Amorim comentou: 01/05/2025 at 19:31

    Só tenho ouvido excelentes comentários sobre o romance e a autora.
    Vou comprar!

    Resposta
  • Leave a Reply to José Luís Amorim Cancelar

    Siga-nos aqui

    Follow @Deus_Me_Livro
    Follow on Instagram

    Mil Folhas

    • Corpo Vegetal, Porto Editora, Deus Me Livro, Crítica, Julieta Monginho,

      “Corpo Vegetal” | Julieta Monginho

      20/05/2025
    • A Gigantesca Pequena Coisa, Deus Me Livro, Crítica, Orfeu Negro, Beatrice Alemagna,

      “A Gigantesca Pequena Coisa” | Beatrice Alemagna

      20/05/2025
    • Julian Barnes, Feira do Livro de Lisboa, Feira do Livro de Lisboa 2025, Deus Me Livro, Quetzal,

      Julian Barnes vem a Lisboa para nos fazer mudar de ideias

      15/05/2025
    • Autobiografia Não Autorizada 2, Deus Me Livro, Tinta da China, Crítica, Dulce Maria Cardoso,

      “Autobiografia Não Autorizada 2” | Dulce Maria Cardoso

      15/05/2025
    • O Macaco Rabugento: Não!, O Macaco Rabugento, Deus Me Livro, Crítica, Nuvem de Letras, Suzanne Lang, Max Lang,

      “O Macaco Rabugento: Não!” | Suzanne Lang e Max Lang

      15/05/2025
    Acha o Deus Me Livro diferente? CLIQUE AQUI.

    Archives

    • May 2025
    • April 2025
    • March 2025
    • February 2025
    • January 2025
    • December 2024
    • November 2024
    • October 2024
    • September 2024
    • August 2024
    • July 2024
    • June 2024
    • May 2024
    • April 2024
    • March 2024
    • February 2024
    • January 2024
    • December 2023
    • November 2023
    • October 2023
    • September 2023
    • August 2023
    • July 2023
    • June 2023
    • May 2023
    • April 2023
    • March 2023
    • February 2023
    • January 2023
    • December 2022
    • November 2022
    • October 2022
    • September 2022
    • August 2022
    • July 2022
    • June 2022
    • May 2022
    • April 2022
    • March 2022
    • February 2022
    • January 2022
    • December 2021
    • November 2021
    • October 2021
    • September 2021
    • August 2021
    • July 2021
    • June 2021
    • May 2021
    • April 2021
    • March 2021
    • February 2021
    • January 2021
    • December 2020
    • November 2020
    • October 2020
    • September 2020
    • August 2020
    • July 2020
    • June 2020
    • May 2020
    • April 2020
    • March 2020
    • February 2020
    • January 2020
    • December 2019
    • November 2019
    • October 2019
    • September 2019
    • August 2019
    • July 2019
    • June 2019
    • May 2019
    • April 2019
    • March 2019
    • February 2019
    • January 2019
    • December 2018
    • November 2018
    • October 2018
    • September 2018
    • August 2018
    • July 2018
    • June 2018
    • May 2018
    • April 2018
    • March 2018
    • February 2018
    • January 2018
    • December 2017
    • November 2017
    • October 2017
    • September 2017
    • August 2017
    • July 2017
    • June 2017
    • May 2017
    • April 2017
    • March 2017
    • February 2017
    • January 2017
    • December 2016
    • November 2016
    • October 2016
    • September 2016
    • August 2016
    • July 2016
    • June 2016
    • May 2016
    • April 2016
    • March 2016
    • February 2016
    • January 2016
    • December 2015
    • November 2015
    • October 2015
    • September 2015
    • August 2015
    • July 2015
    • June 2015
    • May 2015
    • April 2015
    • March 2015
    • February 2015
    • January 2015
    • December 2014
    • November 2014
    • October 2014
    • September 2014
    • August 2014
    • July 2014
    • Contacto