Ao longo dos últimos anos, temo-nos deparado com uma torrente de lançamentos discográficos de Ty Segall. Porém, essa consistência criativa levou-o a um ponto de não retorno na sua carreira: a gestão de expectativas por parte dos melómanos que o seguem. No entanto, a sua postura manteve sempre o mesmo registo: ficar distante das tendências e dos padrões da música pop contemporânea.
Seja como for, o desafio que se coloca no inicio da audição de “Emotional Mugger” (Drag City, 2016) é o de inferir qual o rumo que a criatividade de Ty Segall tomou depois de “Manipulator”, e de perceber se 2016 irá ser o ano do reforço de um culto que se solidificou grandemente em 2014.
“Emotional Mugger” parece, à partida, um amontado de canções curtas (apenas um tema tem mais de quatro minutos) onde, aparentemente, não reside grande história. O pragmatismo deste lote de canções leva a crer que poderá tratar-se da edição mais consistente de Segall, com a presença constante de um sintetizador – que é a alma do disco – a dar substancia à tendência inovadora do seu criador – que não deixou de parte a baixa fidelidade que corta amiúde as vocalizações aliadas a uma bateria que nunca deixa de se ouvir, nem que seja lá ao fundo.
Qualquer aparência de erro de performance significa, antes, uma performance diferente do que foi feito em qualquer registo anterior, e essa diferença tende a ser ouvida com maior prazer, num lote de canções que, contrariando primeiras impressões, dissertam sobre desconexões existencialistas ou distanciamentos emocionais, que soam a garage rock e onde constam pequenas pérolas como Diversion ou Candy beam.
Fazendo uma contabilidade ao jeito futebolístico, e recorrendo à tabela classificativa da Primeira Liga, poderemos enquadrar “Emotional Mugger” na primeira metade dos nove discos de Ty Segall. O que, com alguma sorte, ainda dará direito a marcar presença na Liga Europa.
Sem Comentários