“A Arte de Voar”, de António Altarriba
Uma das maiores revelações da BD da actualidade, “A Arte de Voar” (Levoir) voltou a colocar o nome de Espanha no centro das atenções. António Altarriba, o argumentista, debruça-se sobre a vida do seu pai – também António Altarriba – o qual, após ter sobrevivido a duas guerras mundiais e uma civil, acaba por suicidar-se com 91 anos. Esta acção intrigante é o mote para o argumentista procurar as respostas na vida do seu pai, as quais ganham vida na arte de Kim. Pai e filho, numa mesma história: um enquanto protagonista, o outro enquanto narrador. Duas vozes distintas que se cruzam por vezes, tornando-se numa. Uma viagem pela Espanha do século XX, terminando na sua fase moderna pós-franquista. “A Arte de Voar” foi o vencedor de melhor publicação estrangeira nos galardões de BD da Comic Con e foi publicado na colecção do Público intitulada Novelas Gráficas.
“A Viagem”, de Edmond Baudoin
Neste “A Viagem” (Levoir), pertencente à colecção Novelas Gráficas editada pelo jornal Público, seguimos Simon, um empregado de escritório parisiense, que certo dia e de forma inesperada parte numa viagem pela França, abandonando mulher, filho e emprego. Uma viagem de auto-conhecimento, carregada de elementos oníricos como é bem comum nos trabalhos deste autor.
“Cinzas“, de Olivier Schrauwen
Olivier Schrauwen regressa, após “O Espelho de Mogli”, para nos relatar uma das experiências mais marcantes da sua vida: o dia em que foi raptado por extraterrestres. “Cinzas” (MMMNNNRRRG/Mundo Fantasma) é um relato aparentemente com aspecto tosco e desajeitado mas que, na sua essência, é tudo menos isso.
“Diário do meu Pai”, de Jiro Taniguchi
Editado na colecção de Novelas Gráficas, pela Levoir, este clássico dos anos 90 chegou finalmente até nós. Nesta história com elementos biográficos, Jiro Taniguchi debruça-se sobre a separação familiar, mais especificamente entre pai e filho. É uma história tocante, que evoca uma das maiores influências do autor: o realizador Yasujirō Ozu. Venceu o prémio de “Clássicos da 9º arte” no Festival Amadora BD.
“Foi Assim A Guerra Das Trincheiras”, de Tardi
O conhecido autor de “Adèle Blanc-Sec” foi mais um dos escolhidos para integrar na colecção Novelas Gráficas, editado pela Levoir este ano. Neste livro compilam-se as suas histórias curtas sobre a primeira grande guerra, criadas em tom de homenagem ao seu avô que combateu na mesma. Nas palavras de Gilbert Jacques: “o que interessa a Tardi, é mostrar o absurdo de um conflito e a confusão dos pobres coitados arrastados nesta máquina que os tritura sem perdão. Tardi fala da guerra, de todas as guerras. Com a angústia de a ver regressar um dia, em toda a sua loucura assassina.”
“QCDI 3000 – Fear Of A Capitalist Planet”, de André Pereira, Astromanta, Hetamoé e Mao
Este projecto da Associação Chili Com Carne é de louvar pela atenção que dá aos novos autores de BD portuguesa, os quais têm uma produção abundante no mercado das fanzines. Este número em particular (o terceiro) surge em colaboração com o colectivo “Clube do Inferno”, composto por trabalhos de Astromanta, Hetamoé, André Pereira e Mao. A destacar temos uma pertinente incursão pelas manifestações de protesto e, se à luz da actualidade não se terão tornado noutra forma de manipulação pela máquina política, uma história de André Pereira que podia figurar igualmente numa qualquer publicação da editora britânica 2000AD. Já em “Fantastic Proliferation” seguimos de perto (demasiado perto) o abuso do poder por parte de Cosimo, uma personagem digna de um qualquer filme de Pasolini, cuja história, da autoria de Mao, prima não só pelo conteúdo, mas por todo o experimentalismo na forma como o autor trabalhou diferentes situações, ao longo da prancha.
“Saga – Vol. 2”, de Brian K. Vaughan e Fiona Staples
Alana e Marko continuam a tentar de tudo para proporcionar uma vida melhor à filha, desde que abandonaram essa guerra interminável entre Landfall e Wreath. O facto de ambos pertencerem a lados diferentes da batalha – qual Romeu e Julieta – confere-lhes um estatuto de especial destaque, o qual faz com que sejam igualmente perseguidos pelas duas facções. Esta incursão pela fantasia e pela ficção-científica, por parte de Brian K. Vaughan e Fiona Staples, faz deste “Saga – Vol. 2” (Image) uma das leituras mais empolgantes do ano.
“The Care of Birds/O Cuidado dos Pássaros”, de Francisco Sousa Lobo
Depois de alguns ensaios em Banda Desenhada, Francisco Sousa Lobo regressa às novelas gráficas com este “The Care of Birds” (Chili com Carne). Desta vez Sousa Lobo debruça-se sobre um dos assuntos mais sensíveis, o da pedofilia. Esta é a história de Peter Hickey, um homem que parece acreditar que “está para os pedófilos como os observadores de aves estão para os caçadores”, um conceito que será explorado ao longo destas páginas naquele que é, sem qualquer hesitação, um dos mais portentosos livros do ano.
“The Umbrella Academy”, de Gerard Way e Gabriel Bá
A Devir fecha o ano de publicações com uma das melhores edições do ano: o primeiro volume desta equipa de Super-Heróis criada por Gerard Way e Gabriel Bá. “The Umbrella Academy” faz parte de toda uma nova abordagem aos Super-Heróis onde se privilegia o corte com as concessões e lugares comuns do género. Uma história divertidíssima que nunca descura o desenvolvimento das suas personagens.
“Volta – O Segredo do Vale das Sombras”, de André Oliveira e André Caetano
André Oliveira – o mais prolífico autor de BD nacional da actualidade – e André Caetano, trouxeram-nos a primeira parte da trilogia “A Volta”. A história misteriosa de um ciclista amnésico que, sem saber como, vai parar a uma estranha e secreta vila onde todos os habitantes são mantidos num clima de medo, graças a uma estranha criatura que deambula pela vegetação. Sendo uma primeira parte, este “Segredo do Vale das Sombras” (Polvo) pode não responder a todas as questões em torno deste ciclista alcunhado de “Campeão”, mas conclui de forma eficiente a história principal deste primeiro capítulo, providenciando-nos pistas suficientes para ficarmos investidos na sua continuação. Foi o vencedor dos prémios Amadora BD para melhor argumento e recebeu o Galardão Anual Comic Con, o qual premeia a melhor publicação do ano.
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