“We Will Always Love You”, título da terceira rodela dos australianos The Avalanches, tem na capa o rosto de Ann Druyan, (entre muitas outras coisas) directora criativa do Voyager Interstellar Message Project, da NASA. Um projecto que enviou para o espaço dois LP`s de ouro com tudo aquilo que nos torna humanos – incluindo a gravação das ondas cerebrais da própria Druyan -, destinados a serem encontrados, um destes dias, por outras espécies inteligentes dos universos conhecidos e mais além.
A banda, (agora) composta pela dupla Robbie Chater e Tony Di Blasi, lançou “Since I Left You”, o disco de estreia, corria então o ano 2000. Considerado um dos melhores trabalhos de sempre na arte da samplagem, a par de obras-maiores como “Paul`s Boutique”, dos saudosos Beastie Boys, foi composto por mais de 3500 samples, todos retirados de discos de vinil. Um disco que, passados 21 anos, continua a proporcionar uma viagem única a ambientes onde tanto podemos desfrutar de um inofensivo chá de menta como subir a fasquia com um vodka/red bull. Em 2016 foi a vez de “Wildflower”, mas foi com a delirante complexidade de “We Will Always Love You”, disco com 25 faixas que piscou o olho ao formato de canção mais convencional, que a banda criou o seu monumento pop dançante perfeito. Algo para o qual muito contribuiu o enorme leque de vocalistas que os australianos convidaram para se juntarem à festa – e que certamente se terão divertido por entre uma variedade de estímulos sonoros que vão de sons de videojogos a efeitos especiais, sem esquecer as colagens de discos obscuros que a banda consegue desencantar sabe-se lá de onde.
O Lisboa ao Vivo esteve longe de encher na noite de 28 de Junho mas, ainda assim, a festa foi grande, apesar de escandalosamente curta – 75 minutos não dá para queimar toxinas, ou sequer refrear um espírito dançante que, à boleia da pandemia, esteve trancado numa lâmpada mágica à espera de uma boa esfregadela – e de o som não ter estado no ponto rebuçado, capaz de fazer ressoar a caixa torácica.
Acompanhados de uma projecção visual que falhou por centímetros o ecrã completo, a banda ofereceu um DJ set recheado de grandes momentos, acrescentando, aos seus temas com já mais camadas que uma saia da Nazaré, beats extra e fusões mais ou menos improváveis, convidando para a pista de dança gente como os Doors ou os Beach Boys.
Depois de termos assistido ao concerto da dupla no Lisboa ao Vivo, fica a ideia de que teria sido boa ideia juntar, ao pacote Voyager Interstellar Message Project, mais um LP de ouro com a gravação de We Will Always Love You”. Afinal, não é difícil imaginar, algures na imensidão do espaço, um grupo de alienígenas a abanar a anca por entre shots, enquanto vão cantando a plenos pulmões: «music makes me high, this music makes me so high». Um festão.
Fotos: André Henriques
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