“Em Albufeira
Há um sítio à beira-mar
Com um ar à maneira, yeah
Com uma boa relação preço-qualidade
E atividades, em comunidade”
Os versos acima transcritos, que poderiam servir para vender apartamentos em modo time-sharing ou promover férias de sonho sem fazer mossa conta bancária, fazem parte de Inatel – cujo vídeo foi rodado no Inatel Albufeira Praia Hotel -, tema assinado pela dupla de sonho constituída por David Bruno e Miguel Caixeiro – ou, se preferirem, David & Miguel. Uma canção incluída em “Palavras Cruzadas”, disco que chega embrulhado numa capa que vai beber ao imaginário dos brasileiros Lucas & Matheus e que leva o romantismo a um novo patamar.
A haver um lema a unir as juntas destas oito canções, seria qualquer coisa deste género: cantar a vida com mais amor. Um amor que, com David (figura de proa dos Conjunto Corona) e Miguel (ou, se preferirem, Mike El Nite), se vê servido com a generosidade de um humor em modo buffet: recorda-se a ida aos Passadiços do Paiva, em tempos onde se usava pouca roupa e se fazia todo o tipo de asneiras por “de trás das pedras da Cascata das Aguieiras”; investe-se em água de colónia, com o collant da Calzedonia da Sónia sempre na mira; regulariza-se as cotas e parte-se, num quitado Ford Fiesta, rumo ao Inatel de Albufeira, que oferece “uma boa relação preço/qualidade e actividades em comunidade”; passam-se Dias de Varão numa instituição noturna, onde há “Pele e metal/Debaixo da luz negra”; dorme-se em lençóis de seda numa suite para os lados de Lisboa, inventando a fórmula química do H2ON; chora-se o Amor Pago, contando os minutos “amargos e poucos” enquanto se sonha com manhãs e inocência; na floreta urbana, picamo-nos numa Rosa que, por trás do ar airoso e esplendoroso, esconde veneno e muitos espinhos.
Onde antes havia rap, paleio de gangsters e uma geografia cirscuncrita a Gaia – às suas gentes, bombas de gasolina e rotundas -, há agora um país inteiro, onde cabe a música popular, as mágoas de amor, as tragédias sentimentais, muito auto-tune e romantismo para dar e vender, celebrando-se, nas palavras de Miguel – em entrevista ao Ípsilon -, “a arte de se conseguir representar um gajo que é um campeão e um machista e etc. mas sem incomodar ninguém ao fazê-lo”. Nunca o Inatel foi um destino tão sexy.
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