O que terá levado músicos da Orquestra Sinfónica do Porto a juntarem-se numa fria estação de metro portuense, às 2 da manhã, para tocar em contra-relógio durante uma hora – para mais em plena pandemia global? O responsável por este inusitado cenário chama-se JP Coimbra.
O músico e compositor é dono de um vasto currículo como escritor de canções, mais reconhecidamente como força criativa por trás do duo pop MESA, mas não só: foi membro dos Bandemónio, de Pedro Abrunhosa, e tocou bateria com os Três Tristes Tigres, entre muitas outras colaborações.
Para o seu primeiro trabalho em nome próprio, quis afastar-se da voz como elemento central: “Vibra” (Klang Technic, 2020) foi pensado totalmente como instrumental. JP Coimbra recrutou um piano, um quarteto de cordas e um grupo coral para uma colecção de temas de música erudita, contaminados por apontamentos e ambientes electrónicos.
A ideia partiu de explorar a musicalidade de determinados espaços da cidade do Porto. As gravações originais nasceram fora do estúdio, feitas em espaços como as escadarias da Casa da Música, a estação de metro do Marquês ou a Fundação de Serralves. Locais que serviram como instrumentos musicais, emprestando a sua acústica própria a cada composição. O desafio foi, sobretudo, gravar em sítios nada preparados para o efeito, adicionando os constrangimentos próprios do ano aziago de 2020. Apesar das peripécias, o projeto logrou chegar a bom porto.
“From Afar”, o primeiro avanço, foi editado no final de Novembro. O piano melódico precede um ritmo electrónico suave, sustentado por cordas e sintetizadores. É uma música elegante que vai crescendo em complexidade, navegando uma melodia cristalina. Tanto lembra o minimalismo de Michael Nyman quanto os blips sincopados dos Kraftwerk.
“Old House” é um tema bem diferente: começa com um lamento teatral de contrabaixo; cordas em barda, acompanhadas de apontamentos mínimos de electrónica – mas são as cordas que mandam. É uma velha casa assombrada a ranger, misteriosa.
Estas duas músicas reflectem os dois lados deste disco: alguns temas aproximam-se mais do ambiental, visões panorâmicas luminosas e optimistas. É o caso de “Brighter” e “Just Saying”, temas cinemáticos, distendidos e minimais, que deixam adivinhar um espaço amplo.
Noutros pontos o som torna-se opressivo e sombrio, como em “Waves”, tema abafado e perigoso – faz lembrar a fantástica banda sonora do filme “Joker”, da violoncelista islandesa Hildur Guðnadóttir. “Waves” foi o tal tema gravado na Estação de Metro do Marquês, e é bem audível a resposta das paredes aos instrumentos musicais. Os microfones foram espalhados em vários pontos, de forma a captarem os conflitos e jogos acústicos proporcionados pelo espaço. O efeito é inquietante e sinistro, como um bom filme de terror.
“Vibra” balança, então, entre a música clássica e a electrónica, com sentido de equilíbrio e assertividade, fazendo adivinhar a continuação desta bem sucedida aventura sonora.
Depois de um primeiro concerto de apresentação na Casa da Música, no passado dia 17 de Dezembro, JP Coimbra já anunciou nova data: toca no dia 16 de Janeiro, às 19h00, na sala principal do Theatro Circo, em Braga.
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