“Roupa Nova” é o segundo longa-duração de João Berhan, rodela que viu a luz através de uma edição de autor que chegou no já distante ano de 2018, quando estávamos ainda longe de imaginar que, depois desta valente dose de bicheza, o melhor mesmo seria pegar fogo ao roupeiro e tratar de comprar nova indumentária.
O disco é composto por oito canções, gravadas por Nuno Morão no Scratch Built e misturadas por Eduardo Vinhas no Golden Pony, com letras e composições do próprio Berhan e uma teia de vozes urdida por Teresa Campos (Sopa de Pedra) – que se chega também à frente na voz e nos coros.
A compor o leque de participações temos a dupla Ricardo Ribeiro (clarinete baixo e soprano, teremim, estalinhos ferrinhos e coros) e Diogo Picão (saxofone tenor e soprano, voz e coros), responsáveis pelos arranjos no que toca a sopros, e também Baltazar Molina (dohola, prato, guizos, estalinhos e coros) e Miguel Gelpi (contrabaixo e coros). Quanto a Berhan, já que estamos numa de listar instrumentos e aptidões, é o homem dos sete instrumentos: voz, guitarra eléctrica, viola, cavaquinho, piano, teclados, percussões electrónicas, chocalho, ovinhos, estalinhos, barulhinhos e coros.
O que salta mais ao ouvido é a fartura de arranjos, onde por vezes há clarinetes e saxofones a enturmar como se não houvesse amanhã, em contraponto a outros momentos em que cabe à voz de Berhan e a uma guitarra tranquila dar o mote a um disco onde são as palavras, sempre as palavras, que tomam conta da coisa, convidando a uma leitura atenta do livrinho que acompanha a edição física.
As letras são delicadas, em canções que já pouco acreditam na revolução ou fazem um manguito ao país, navegando entre a música popular e o jazz, a pop e o fado, que tanto sabem a manifesto como a um belo croissant do Careca. Serve-se sangria ao povo, veste-se a tanga por já não haver calças, canta-se, dança-se e bebe-se para esquecer, anda-se com dinheiro contado no bolso, aquece-se o bacalhau que não se comeu de véspera, termina-se a viagem em Lisboa, uma cidade que estremece e onde já nada é o que parece. “A luta é poesia, não prosa”, canta-se a certa altura. Ora bem.
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