10 anos depois de terem saído da gaiola, os Birds Are Indie fazem a festa com a edição de um novo disco, cortado ao meio em duas partes desiguais e publicado a dois tempos.
“Migrations – The Travel Diaries #1”, lançado em Abril com o selo da Lux Records, é o primeiro de dois volumes bem distintos. Disponível fisicamente no formato CD, conta com cinco músicas novas e uma revisitação a cinco canções mais antigas, alvo de uma esmerada reinvenção. Em 2021 será a vez de “Migrations – The Travel Diaries #2”, então no formato vinyl, com mais uma mão cheia de novas músicas e os mesmos cinco temas revisitados da primeira parte lançada em Abril.
A abertura cabe a “Black (Or The Art Of Letting Go)”, novo single da banda de Ricardo Jerónimo, Joana Corker e Henrique Toscano, tema que vai planando entre uma dança de salão western para, às portas do refrão, meter a quinta velocidade, como num jogo de cartas interrompido a meio pelo sacar de revólveres e a promessa de duelos.
No que diz respeito a revisitações temos “If Only” – do disco “Love Is Not Enough” -, música sobre um coração partido e arrependido que recebe um abraço consolador da pop; “We`re Not Coming Down”, que tem assobios, espírito natalício uma criançada destemida que se recusa a descer de uma árvore onde quase se pode tocar as nuvens; e um trio de canções sacado a “How Music Fits Your Silence”, disco inaugural da banda: “Instead of Watching Telly”, que começa meio a brincar, é pérola que poderia facilmente ter sido uma das 69 Love Songs com que os Magnetic Fields nos brindaram em tempos; “Needless to Say” é-nos trazido das areias do deserto, uma trip de mescalina onde se pergunta, a meio da demanda, what do you mean by what?; e “The Place”, a quem cabe fechar o disco, um manifesto do lugar e da contemplação com teclas presas em fundo, que depois de uma caminhada diz em tom de desafio: “I`ve made it through this/And I have nothing to say/Feel free to go away”.
Quanto a novos temas – e para além do inaugural “Black (Or The Art Of Letting Go)” – temos “I Won`t Take It Anymore”, animado levantamento pessoal contra o fingimento, em mais um casamento feliz das vozes de Ricardo Jerónimo e Joana Corker; “Time To Make Amends”, que regressa à poeira do deserto folk dos Birds Are Indie, lugar onde à Loucura são apresentados dois amigos de longa data: a Culpa e a Tristeza; “The Senior Dancer” ameaça o jazz tresloucado para logo depois ganhar juízo e, à boleia de um piano a discorrer em modo valsa, vai abrindo cervejas enquanto um velho dançarino mostra ser bom de ancas, ficando a promessa de um regresso (e de mais cervejas); quanto a “Something About The Way She Smiles” é swing em formato pop, com a pandeireta a marcar o ritmo antes de a festa ter lugar. Uma festa com uma banda sonora variada mas onde o tema é, e será sempre, o de um amor perfeito.
O título Migrations assenta na perfeição a esta viagem por entre uma geografia física e emocional, a que não falta o espírito de diário de uma banda que sabe contar histórias onde também ela participa. Há melancolia, inquietação, ironia e espírito de desafio, num disco onde tanto descobrimos o espírito crooner de um Bill Callahan, a fatalidade de um David Berman ou o humor revolto de uns Magnetic Fields. Dez anos depois de terem aprendido a voar, estes pássaros estão soltos como nunca. Parabéns, rapariga e rapazes.
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Se tudo correr bem como se espera, os Birds Are Indie irão tocar ao vivo nestas datas e locais:
11 Setembro | Festival Xiria Pop, Carballo
25 Setembro | Teatro da Cerca de São Bernardo, Coimbra
7 Outubro | Costello, Madrid
8 Outubro | Asklepios, Valladolid
9 Outubro | Sala Creedence, Zaragoza
10 Outubro | Llimac Elèctric, Lleida
16 Outubro | Avenida, Aveiro
4 Dezembro | Casa da Música, Porto
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