“Listen up and I’ll tell a story
About an artist growing old
Some would try for fame and glory
Others aren’t so bold”
A quadra foi escrita por Daniel Johnston para “The Story of an Artist”, canção que poderia ter sido dedicada ao senhor M. Ward. Com 11 longas-duração já editados, Matt Ward continua a ser, para muito boa gente, um ilustre desconhecido – ou, então, aquele tipo que a Zooey Deschanel escolheu para formar a dupla She & Him.
Há oito anos atrás, quando se estreou em Portugal numa muito despida Aula Magna, poucos foram os que presenciaram um concerto intimista, emocional e deveras surpreendente, em que Ward surgiu completamente exposto: sem banda, disfarces ou rede de segurança, qual génio a sair da lâmpada por entre o risco da imperfeição. Não admira por isso que, no esgotado concerto que teve lugar na ZDB (31 de Janeiro), Ward dissesse a certa altura: “É mais ou menos o meu primeiro concerto em Lisboa“. Ao contrário daquela falsa partida de 2011, o mestre saiu agora de coração cheio, tal não foi o fervor e a admiração com que foi recebido no Aquário mais agitado da cidade de Lisboa.
Curiosamente, oito anos e quatro novos discos depois, há temas que se mantêm agarrados como lapas ao alinhamento: “Chinese Translation”, que continua a parecer estar a ser tocado a quatro mãos no último nível do Guitar Hero; “Fuel For Fire”, momento transcendental que terminou com um a capela que, só por si, teria valido o bilhete; “Eyes on the Prize”, pérola romântica sacada ao fundo do mar; ou, então, o trio-maravilha de versões – “Rave On”, de Buddy Holly; “Story of an Artist”, de Daniel Johnston – um elogio da loucura e da excentricidade que Ward dedicou, uma vez mais, aos artistas de Lisboa; e “Let`s Dance”, original de David Bowie que sabe sempre a mel.
Há também temas do novo “Migration Stories”, ou outros mais afastados da linha temporal como “Poor Boy, Minor Key”, versão cabaret de um tema que só mesmo por sorte não descobrimos na banda sonora de uma das aventuras cinéfilas de Tim Burton; “Rave On”, onde a hábil gravação de pistas lhe dá tempo para desfrutar de um copo antes de malhar forte no piano; “Vincent O’Brien”, delícia sobre um tipo que só consegue sonhar quando está triste; “Here Comes The Sun Again”, que Ward disse ter escrito entre Los Angeles e Portland no dia em que George Harrison morreu – e que tem os mesmos acordes Beatlescos -, ou “For Beginners”, pedido especial de Tiago Saga dos Time For T, a quem coube abrir com distinção a noite para Mr. Ward.
Houve também tempo para discos pedidos, antes de um remate final que mereceu uma palavra especial: “É uma canção de amor. Quero que pensem naquela pessoa que vos marcou e que pode ou não estar aqui. Ou não pensem. Bem, talvez seja melhor não pensarem“. Tipo engraçado, este Ward.
Fotos: Vera Marmelo/ZDB
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