Na sexta-feira passada, pairava pela cidade de Lisboa uma nuvem de nostalgia e revivalismo. Em diferentes recantos da metrópole acontecia o início do fim dos Dead Combo, o término de mais um fôlego dos Ornatos Violeta e, no cantinho do Musicbox, os Zen regressavam aos concertos, após uma mão cheia de anos sem actuar.
Facto é que o quarteto portuense rapidamente mostrou que estava perfeitamente oleado, com toda a potência a que nos habituou nos seus anos áureos. O tema instrumental com que abriram as hostes rapidamente nos proporcionou os típicos riffs de rock com trejeitos ardentes de funk e blues. O desfile de canções familiares foi, logicamente, constante. A única falha maior terá sido “Cold As Water”, a espécie de balada dos Zen, que fez parte do EP debutante em 1997.
Com o decorrer dos temas, Gon foi revisitando o seu manancial técnico-táctico, com a voz intacta e a explosividade que sempre exibiu, não tardando a ficar em tronco nu, como manda o livro de regras dos Zen. Os restantes músicos mostraram-se uma máquina praticamente perfeita, tendo as antigas lições na ponta da língua, sobre as quais passaram, entretanto, mais de duas décadas. Gon relembrou o mítico concerto no Palco 6, integrado no último dia da Expo ’98, provavelmente a penúltima vez que tinham descido até Lisboa para tocar. “Air” foi um óptimo exemplo dessa fase da música nacional, tema elaborado na altura para enriquecer a fresquíssima colectânea “Tejo Beat” (seleccionada pelos tímpanos sempre mágicos de Henrique Amaro).
A plateia, não sendo propriamente vasta, compensou a banda com uma dedicação gigantesca, mostrando-se povoada por fãs de longa data, que conheciam o repertório de fio a pavio. Foram vários os momentos de interação entre a banda e a plateia, incluindo a oferenda de um par de cigarros ao vocalista Gon, que tudo fez para merecer tal benesse. Dançámos nos momentos mais funk de “Mass” e “Not Gonna Give Up”, berrámos logo no arranque com “Redog” – e mais tarde no instrumental “U.N.L.O.” – e saltámos nas explosões detonadas pelo seminal “11 A.M.” ou “Step On”.
Foram cerca de 15 malhas oferecidas por estes regressados Zen, que tão bem nos souberam voltar a entranhar, sentido que o concerto passou num ápice. O que, por norma, é um óptimo sinal relativamente à qualidade do mesmo. Aguardamos ferozmente que o regresso seja duradouro e adicione inclusivamente novas canções ao catálogo do colectivo da Invicta, para que tenhamos o privilégio de escutá-los uma e outra vez. Esperemos que não desistam e continuem a acelerar pelas nossas estradas fora.
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