Nos finais dos anos 1970, os The Monochrome Set fizeram parte da primeira onda de bandas daquilo que ficou registado na enciclopédia musical como post-punk. Nos anos oitenta e à boleia de uma pop marcada pela delicadeza, receberam elogios de gente como Morrissey ou Edwyn Collins e, mais para a frente no calendário, de bandas como os Franz Ferdinand, os The Divine Comedy ou o Bluriano Graham Coxon. Um som que, passado uma enormidade de tempo, continua sem poder ser datado, algo que poderá ser comprovado no recente “Fabula Mendax” (Tapete Records, 2019), uma espécie de disco conceptual baseado em manuscritos escritos no século XV por Armande de Pange, uma companheira de Joana D`Arc.
Segundo o press release, a história vai mais ou menos assim: “Enquanto Armande foge da sua família descontrolada, acaba por ser apanhada no caos da Guerra dos Cem Anos. Ela encontra e segue a enigmática Joan, tornando-se mais tarde parte de seu crescente grupo de seguidores. Enquanto viajam para o oeste na zona de guerra do norte da França, eles encontram uma mistura heterogénea de nobres intrigantes, cavaleiros belicosos, bispos nefastos e muitos supervilões, bandidos e renegados“.
“Fabula Mendax” é um disco com tanto de optimista como de sombrio, dividido em duas partes que viajam entre a escuridão e a luz, com uma forte componente sinfónica capaz de fazer revelar vampiros, salteadores, bobos da corte ou cowboys. Em “Rest, Unquiet Spirit” é como se os Current 93 se tivessem apaixonado pelos westerns, enquanto ouvimos os gritos de índios em fuga; “Throw It Out The Window” vê o espírito de cavalaria persistir, com coros que se vão escutando sobre os Grand Canyons, isto antes de os Madness nos convidarem para um baile; em “My Little Reliquary” conseguimos imaginar Jim Morrison a malhar um ácido e a ouvir isto num deserto propício ao sonho, com oásis capazes de acolher festivais de músicas do mundo; “Eux Tous” é música romântica do oeste, uma daquelas em que se entra no saloon à biqueirada, se pede um whisky duplo e, de caminho, se pega na miúda mais gira para uma dança que só pode terminar em rebuliço; “Darkly Sly” é uma despedida chuvosa, onde a guitarra clássica se funde com a eléctrica; Se houver uma nova, improvável, mas desejada nova temporada de Uma Série de Desgraças, “Summer Of The Demon” poderá ser a música do genérico, com um twist tropical a surgir na ponta final; “I Can’t Sleep” vê levantar um pássaro que vale por um bando e não deixa ninguém dormir, levando a uma dança zombie que tem tudo para acabar mal; “Come To Me, Oh, My Beautiful”
é música de engate pura, entre a auto-motivação e a passagem à acção – e com um solinho a la Dire Straits; em “Sliding Icicle” é altura para pegar no trenó e, mesmo sem gelo, aproveitar o declive das dunas; a fechar, “La Chanson De La Pucelle” é uma balada de despedida que conta com a bênção do violino. A altura perfeita para deixar para trás a cidade, arrumar as tralhas e partir em direcção ao deserto – e à cata de mais uma recompensa por uma cabeça a prémio.
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