A espera já era longa: há cinco anos que estava para sair “Dear Tommy”, sexto álbum de estúdio dos Chromatics, o sucessor do aclamado “Kill For Love”, de 2012. Depois de alguns EP’s e singles de avanço, Johnny Jewel, mentor do projecto, deitou para o ecoponto uma versão quase final do disco para começar outra vez da estaca zero. No início de Outubro, sem que nada o fizesse adivinhar, a banda lançou “Closer to Grey”, quebrando o enguiço e deixando (por enquanto) “Dear Tommy” em águas de bacalhau.
Jewel é um músico prolífico, e a sua editora, Italians Do It Better, está no epicentro de um batalhão de projectos, todos ligados a uma sonoridade mergulhada em electrónica, reflexos de néon e influências dos anos 80 – canções desenhadas como massas atmosféricas e nocturnas, finamente produzidas.
“Closer to Grey” não destoa desta matriz. Começa com uma versão de The Sound Of Silence, clássico de Simon e Garfunkel, que aqui se desenvolve lentamente, assente na voz sussurrante da vocalista Ruth Radelet, apoiada por um sintetizador tranquilo.
Entra-se depois, com You’re No Good e Twist The Knife, em terrenos mais dançáveis, servidos com um comedido fio de azeite, mas sem sair dos limites do bom gosto impecável da banda.
Há, neste disco, muitos outros pontos de interesse: Light As a Feather começa como uma canção de embalar sobre a qual aterra uma viciante batida trip-hop. “Ela murmura segredos dos mortos”, canta Radelet como uma sombria odalisca, e a canção transforma-se numa melodia oriental, à boleia de um sintetizador sedutor.
Mais à frente há Touch Red, tema jazzy de elegância a toda a prova, com um baixo fumarento ao volante da elegante limusine dos Chromatics. O solo de guitarra rasgado, distorcido e árido, é quase shakesperiano de tão melodramático.
Whispers In The Wall é mais uma melodia de casa assombrada, tão próxima da banda sonora de Halloween que parece ter o fantasma de Michael Myers atrás das teclas. John Carpenter é a referência, tanto na atmosfera como na sonoridade.
Destaque ainda para a versão de On The Wall, clássico minimalista em dois acordes dos Jesus And The Mary Chain. Embora lhe falte alguma da garra do original, é uma aproximação interessante, bem transformada pelo filtro Chromatics.
Há alguns pontos menos conseguidos, trechos onde a receita parece mais corriqueira – veja-se a composição sonâmbula de Wishing Well, o tema que encerra o disco, ou o interlúdio delico-doce de Move a Mountain, por exemplo.
É no entanto inegável que, com “Closer To Grey”, os Chromatics continuam a ter o domínio perfeito do seu som, reis e senhores de uma pop sintética e digital, evocando uma galeria de personagens que passeiam velozes pela noite, com óculos escuros e muito, muito estilo.
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